American Elections Hold World Hostage

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Mundo fica refém das eleições americanas

Fracassada a ideia de uma ampla negociação em torno do quadro fiscal de longo prazo, uma tentativa de Barack Obama feita a partir da necessidade extrema de ser ampliado, até terça-feira, o teto de US$ 13,4 trilhões do endividamento dos EUA, o presidente foi à televisão, no horário nobre de segunda à noite, a fim de alertar para o risco de uma “crise econômica profunda”. Em seguida, o interlocutor de Obama durante os últimos dias de negociação frustrada, John Boehner, republicano, presidente da Câmara dos Representantes, também apareceu na TV para acusar o governo democrata de desejar um “cheque em branco”.

Em editorial, o “New York Times” bem observou que o pronunciamento de Boehner foi preparado antes da fala de Obama, também feita ao vivo. Configura-se, neste sugestivo detalhe, a contaminação do tema – importante não só para a economia americana – pelo embate eleitoral de 2012, quando o presidente tentará a reeleição, algo inconcebível para os grupos conservadores radicais do Partido Republicano. Para os republicanos, não importava muito o que dissesse Obama. Seria atacado do mesmo jeito.

A intenção democrata é aproveitar a fixação de um novo e imprescindível teto de endividamento para negociar com os republicanos uma espécie de reforma fiscal de horizonte longo, para estabelecer cortes de gastos e fontes de geração de novas receitas com vista a repor nos trilhos as contas públicas dos EUA, desequilibradas pela crise financeira, como em quase todo o mundo. Pelo menos até ontem, o impasse parecia insuperável. A última proposta feita pelo republicano Boehner estabelecia um corte de US$ 3 trilhões e a elevação do teto da dívida em R$ 2,6 trilhões, em duas fases, a segunda antes de novembro do ano que vem. A intenção é visível: levar para uma campanha um debate explosivo como este. Os democratas, claro, rejeitam, e insistem num aumento do teto já, e que vigore até depois das urnas.

Um motivo de discórdia entre os dois partidos é a suspensão – já prevista – de incentivos tributários para famílias de alta renda. Obama não quer prorrogá-los, como já o foram uma vez, e os republicanos não apenas discordam, como propõem cortes nos gastos sociais, área sensível para os democratas. Até mesmo Obama, por admitir algumas reduções em alguns desses programas, tem recebido críticas da ala mais à esquerda (liberais, no jargão americano) do próprio partido.

Pelo menos até ontem à tarde, continuava sobre a mesa proposta de Harry Reid, líder democrata no Senado, onde o partido de Obama é maioria – ao contrário da Câmara dos Representantes -, pela qual a elevação do teto da dívida vigorará até depois das eleições do ano que vem, com cortes/economias de US$ 2,7 trilhões, inclusive em despesas sociais. Há grandes concessões aos republicanos, até mesmo a ausência de aumento de carga tributária.

Mas, como a influência das eleições sobre o debate é grande, o cabo de guerra está indefinido. Ainda há a esperança de que a sensatez vença afinal, e os republicanos recuem no plano de emparedar Obama, mesmo à custa de uma recessão americana, com reflexos conhecidos no mundo. É o que acontecerá se na terça que vem o Tesouro americano parar de pagar as contas, ao não poder lançar títulos de dívida.

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