Is David T. Beers More In Charge Than Obama?

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Foi ele quem retirou aos Estados Unidos o triplo A, mas se alguém se cruzasse na rua há uns dias com este cinquentão bigodudo nunca imaginaria que fosse homem para discutir com Barack Obama quem manda mais. Até a Standard & Poor’s baixar a nota da dívida americana, David T. Beers vivia discreto em Londres, onde estudou na School of Economics depois de se ter formado na Virgínia em Relações Internacionais. Mas no dia 5 a equipa de analistas que lidera chocou o mundo ao classificar a América com um AA+, nota de sonho para a maioria dos países, mas humilhante para um Obama que há tempos proclamara que os Estados Unidos não eram nem a Grécia nem Portugal.

Na mesma sexta-feira, Beers passou a ter um artigo na Wikipédia, como notou o The Independent. E se alguns dados biográficos foram aí expostos, o rosto só se tornou conhecido no fim-de-semana, com uma entrevista à Fox News a explicar a decisão da S&P. Modesto para quem reivindica fazer contas melhor do que o Departamento do Tesouro, Beers declarou no canal americano que a sua decisão não teria grande impacto. Afinal, um AA+ não é assim tão diferente de um AAA. Mas que Obama tinha de ouvir o alerta!

Mas quem terá feito orelhas moucas foi a própria agência de rating. Tendo informado a Casa Branca de que iria acabar com o eterno triplo A, a S&P recebeu de volta o aviso de um erro de dois biliões de dólares nos seus cálculos sobre a dívida. Mesmo assim, avançou com a nota, algo que Paul Krugman chama descaramento. Em artigo no New York Times, o Nobel da Economia não só arrasa a decisão da agência como relembra que em 2008, em vésperas de estalar a crise financeira, a S&P dava ainda nota A ao Lehman Brothers.

Mas se o NYT está à esquerda, o Wall Street Journal é insuspeito de desconfiar do capitalismo global. E mesmo assim revelou que dos 15 países que se mostraram incapazes de pagar a dívida nos últimos 35 anos, 12 mantinham meses antes uma nota da S&P de B ou mais. Ora como, nota o WSJ, um B significa apenas 2% em média de hipóteses de incumprimento a um ano, os magos da agência têm de limpar a bola de cristal. Outro exemplo de profecia duvidosa é a nota igual dada a Argentina e a Brasil em 2001, com o primeiro país a entrar em crise no ano seguinte, enquanto o segundo iniciava uma década de êxitos.

As agências de rating são úteis. Dão aos investidores uma ideia sobre o rigor contabilístico das empresas e dos Estados. Mas o problema é não viverem só da credibilidade. Muitos países erraram ao fazer leis que obrigam os investimentos a seguir os critérios da S&P e das suas irmãs Moody’s e Fitch (que mantêm AAA para os Estados Unidos). Seria como obrigar as universidades a seguir à risca as escolhas da Academia Sueca. Por muito prestigiante que seja o Nobel da Literatura, Pessoa não seria lido, nem Borges ou Joyce.

Na América, Obama já deixou claro que nem a S&P nem Beers mandarão mais do que ele, mesmo que o desemprego continue alto, o crescimento fraco e as bolsas e a opinião pública descrentes da retoma. Na Europa, é tempo de também os líderes políticos mostrarem às agências de rating e aos mercados que não têm medo de mandar. Para não levarem um bigode.

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