Texan Perry Is New Candidate for Chief in the USA

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Texano Perry é novo candidato a manda-chuva nos EUA

Agora que Rick Perry é candidato à presidência dos EUA, os liberais deverão abusar de uma piada decente: você sabe como diferenciar o atual governador do Texas do ex-presidente George W. Bush, seu antecessor no cargo? Resposta: Bush é o texano esperto. Mas Perry não tem nada de bobo. Basta ver o timing do lançamento de sua candidatura no fim-de-semana. Ele roubou a cena em uma primeira disputa entre os republicanos já na parada no estado de Iowa (com vitória de Michele Bachmann) e gerou uma nova dinâmica na corrida.

Perry não se constrange do seu robusto conservadorismo e esbanja carisma. Apesar da ginga e sotaque do Texas, ele está mais para Sarah Palin (e o que ela fará agora? Mais passeio de ônibus pelo país?) do que para o desacreditado Bush. É o caubói genuíno de origem rural humilde, ao contrário de Bush, que veio de uma família de elite do norte do país e aprendeu a posar de populista caipirão. Perry espera cavalgar entre as diversas alas mais conservadoras, com sua mensagem antimpostos, aversão a Washington e fervor religioso.

Na corrida das primárias, este governador texano reeleito três vezes é uma ameaça tanto ao prontuário de experiência do ex-governador de Massachussetts, Mitt Romney, visto com desconfiança pelos conservadores, como para a darling do Tea Party, a deputada Michele Bachmann, imbuída do fervor religioso, mas carente de bagagem gerencial. Claro que existe uma outra dinâmica: Perry e Bachmann poderão rachar o voto mais conservador, favorecendo Romney. Ë verdade que ao longo da maratona, um deles vai cair fora e cerrar fileiras contra o inimigo comum, Romney, o liberal disfarçado de conservador dentro do novo e rígido Partido Republicano.

Adiante das primárias, no caso de vitória de Perry, a dinâmica nas eleições gerais é incerta. Bom de palanque e com seu prontuário de gerador de empregos no Texas (embora em geral com salários baixos), Perry pode ser um candidato forte contra o democrata Barack Obama, administrador de um país que atualmente tem taxa de desemprego acima de 9%. Moderados e independentes, é verdade, podem se assustar com um político que considera o aquecimento global uma histeria, leva a sério o criacionismo e chegou a acenar retoricamente com a secessão do Texas dos Estados Unidos da América. E há o folclore de Perry, que em abril fez uma petição ao Todo-Poderoso por chuva contra a seca no Texas (as preces não foram atendidas).

Aqui embaixo, poderá ser um duelo épico e lamacento sobre o futuro dos Estados Unidos da América. Perry bradando que o governo é a raiz de todos os males (embora tenha aceito o dinheiro do pacote de estímulos federais) e Obama lembrando que nem todas as redes de proteção social devem ser rasgadas. Os republicanos vão insistir que Obama é o presidente do país rebaixado, enquando os democratas vão rebater que Perry não merece ser promovido por uma suposta genialidade gerencial. É a geografia, estúpido! Perry recebeu nota de crédito do divino, que abençoou o Texas com petróleo, enquanto ele amaldiçoou os seus habitantes com baixos padrões educacionais e pouca proteção social.

Muitos conservadores americanos, como John Podhoretz (filho do icônico neoconservador Norman Podheretz), vislumbram em Perry o mais vigoroso candidato conservador desde Ronald Reagan há 30 anos. Mas aqui cabe uma observação curiosa (e vou ser um pouco repetitivo, pois tratei do assunto na última coluna).Reagan, como governador da Califórnia, empreendeu um aumento histórico dos impostos e fez o mesmo na Casa Branca, embora tenha patrocinado também uma redução histórica. Reagan negociava com os adversários (sejam os democratas no Congresso, seja o comunista Mikhail Gorbachev). Reagan não teria vez nas primárias republicanas de hoje, de combate sem tréguas, sem tréguas, sem tréguas…

Ele seria simplesmente devorado por uma cultura política em um partido sequestrado pelo Tea Party. Ferramentas de política econômica se converteram em catecismo religioso. Num debate da semana passada, promovido pela Fox News, os oito participantes foram unânimes. Levantaram a mão para dizer que não aceitariam um grande acordo com os democratas baseado em 10 dólares de corte de despesas e 1 dólar de aumento de impostos. Tudo bem, em primárias é preciso paparicar a base ultraconservadora, mas com este tipo de ridícula promessa teatral, os candidatos republicanos vestem uma camisa-de-força ideológica. Estas amarras não constrangem Rick Perry.

Impostos baixos claro que são uma boa idéia econômica, mas não podem ser um mandamento inquebrantável. Esta intransigência visceral não é saudável para o Partido Republicano, para o movimento conservador e para o país. Os democratas de Obama têm um problema para entusiasmar a sua base. Pudera, neste clima econômico. O drama dos republicanos é excesso de entusiasmo na base. Obama se posiciona para as eleições gerais, de olho em moderados e independentes, enquanto os republicanos são cativos de sua base.

Resta saber se alguém como Perry poderá cavalgar além do seu curral de eleições texanas ou primárias republicanas. Quanto às preces do governador do Texas, pelo menos elas foram atendidas aqui em cima. No domingo, eu escrevi este texto sob chuvas torrenciais em Nova York. Deus também é novaiorquino, quem sabe até liberal.

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