“Os Estados Unidos são um exemplo a não ser seguido”. É o que acha a presidenta Dilma Rousseff. “Essa discussão sobre o aumento do teto da dívida deu-se em uma disputa absolutamente paroquial, que compromete o papel do país no mundo. O que sobrou para eles: inundar o planeta de dólares, transferir parte de seu ajuste para os mercados emergentes. Isso não vai levar a boa coisa”, afirmou ela na segunda entrevista que deu à revista Carta Capital desta semana, cuja leitura recomendo.
Para a presidenta, o mundo todo sabe o que fazer para enfrentar a crise. “O nosso Banco Central, por exemplo, está cheio de instrumentos para analisar e agir. Mas de que adianta tudo, esse saber, a experiência, se em uma questão tão paroquial os dirigentes da maior economia do mundo fazem o que fizeram?”, questionou.
Dilma Rousseff defende que o Brasil tem todo o direito de se preocupar com as escolhas norte-americanas, pois o país tem US$ 350 bilhões em reservas e já é o quarto maior credor dos Estados Unidos. A chefe de governo elogiou o papel da Unasul (o conselho político dos países) para os países da América Latina. “Antes, nos anos 1990 e em parte dos anos 2000, a alternativa era fazer acordos de livre comércio com os Estados Unidos, na esperança de encontrar a felicidade”, comentou. Ela ressaltou que, hoje, no entanto, a situação é outra. O fórum reúne países com taxas de crescimento expressivas, como enorme potencial de integração e que pode ser aproveitado em benefício comum.
Relação ambígua com a China
A China foi outro tópico aprofundado na entrevista. Para a líder da nação, na relação que o Brasil tem com o país asiático o que se quer é incluir inovação, parceria e cadeias produtivas na pauta bilateral. “Se quiserem uma parceria conosco, é preciso ter ciência, tecnologia e inovação”, afirmou, citando a área de satélites como uma das possibilidades.
Para ela, o modelo de produção CKD – quando todas as peças são enviadas de outros países e o produto é apenas montado na fábrica brasileira – não interessa. Caberia ao Brasil verificar se os chineses estariam ou não usando o método CKD no país. O mesmo caberia nos casos de triangulação entre países para que determinados produtos escapassem às barreiras brasileiras de antidumping. “Nós é que temos de garantir (que isso não se dê)”, afirmou.
Saneamento básico
A presidenta discorreu, também sobre a importância do saneamento básico no Brasil. Explicou que o governo federal não tem como fazer as obras diretamente, as quais cabem aos Estados. Ainda assim, colocou à disposição 40 bilhões de reais para projetos voltados à gestão da água. “Damos preferência às grandes concentrações populacionais”, explicou.
A eficiência da execução dos projetos, portanto, estaria nas mãos das companhias de saneamento. Os Estados que não as têm, têm menor eficiência na execução das obras, explicou. E ao encerrar sua entrevista, a presidenta prometeu construir 750 mil cisternas no Semiárido nordestino, onde vivem 20 milhões de brasileiros. Serão 300 mil só este ano. Confira a matéria na Carta Capital desta semana. A íntegra do material está disponível apenas na versão impressa da revista.
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