Poverty Threatens American Recovery

<--

Pobreza ameaça recuperação americana

A descoberta de que a pobreza americana atingiu seu patamar mais alto em 18 anos é um dado preocupante por dois motivos.

Primeiro, revela o sacrifício a que a população menos protegida foi submetida nos últimos anos e até ajuda a entender atitudes como a do bilionário Warren Buffett, capaz de declarar

que acha injusta a contribuição da fatia mais endinheirada para a recuperação do país.

O aspecto grave é outro, porém. Dados apurados pelo economista Robert Reich, secretário do Trabalho de Bill Clinton, revelam uma estrutura preocupante na distribuição de renda. Em artigo publicado domingo no Estado de S. Paulo, Reich informa que 5% da população

americana responde por 37% do consumo do país. É um grau de concentração de renda que aponta para o esmagamento da classe média, cuja prosperidade alimentou quatro décadas de crescimento após a Segunda Guerra Mundial.

Hoje, essa situação ameaça tornar a economia americana desfuncional. Um número cada vez maior de economistas já entendeu o fenomeno. Num país com esse grau de concentração de renda, os pobres — cada vez mais numerosos — não tem como participar do consumo por conta de seus próprios vencimentos.

Precisam de crédito. Até um certo patamar, não há nada demais em pedir dinheiro emprestado ao banco. Este dinheiro sempre injetou saúde para a economia e sempre contribuiu para o crescimento.

O problema é quando o crédito consome várias vezes a renda das famílias e torna-se fonte principal para o consumo, envolvendo desde a compra para supermercado como os planos de saúde, o automóvel da família e assim por diante. A partir de determinado grau de endividamento, o principal bem que as pessoas passam a adquirir é de outra natureza. Usam crédito para comprar mais crédito.

Foi essa situação, criada pelo empobrecimento da classe média americana, que levou o país a quebrar em 2008. Clientes e institucionais refaziam o mesmo crédito várias vezes, alimentado-se de uma riqueza artificial, sem apoio no mundo real, apenas em operações que criavam um enriquecimento fictício e, naturalmente, de curta duração.

Três anos depois, esta situação é o principal entrave para a recuperação da economia. O

desemprego alto retira uma parcela importante de consumidores do mercado. Entre aqueles

que conservam seu postos de trabalho, uma parcela imensa não gasta pelo

receio de ficar sem empregos. Outros, mais pobres, ganham tão mal que não tem meios para voltar às compras, o que dificulta a retomada do consumo e a geração de empregos.

Nessa situação, as empresas não tem animo para investir nem para ir ao banco pedir crédito para investimentos, ainda que o juro esteja perto de zero. Esse ambiente explica o ceticismo dispensado ao pacote de empregos de Barack Obama. Nem tudo se deve ao receio de dar oxigênio a um presidente que bate recordes de baixa popularidade.

E assim a economia americana segue parada, olhando para trás. Raras vezes a

imagem do futuro foi tão medonha.

About this publication