Steve Jobs and Individualism at Its Peak

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Fui um leitor atento e por fim entediado das biografias instantâneas de Steve Jobs publicadas no fim de semana.

Reaprendi quais foram suas principais criações. Também tenho uma ideia do tamanho de sua fortuna e do valor da sua empresa — só não é maior do que a Exxon. (Ou já passou a Exxon?) Li muitas comparações superlativas que, creio, têm lá sua razão de ser.

Não tenho competência para julgar mas posso perceber que ele fez produtos muito melhores do que seus concorrentes. Como estratégia de negócios, jamais foi acusado de praticas desleais.

Mas, naquilo que talvez seja um reflexo dos tempos atuais, nada aprendi sobre um aspecto que me parece muito importante. Não sei quem foi o cidadão Steve Jobs. Não sei de seus compromissos, seus valores e causas.

Ele foi contemporâneo de eventos marcantes, da Guerra do Vietnã ao colapso de Wall Street em 2008. Assistiu a ascensão de Ronald Reagan à Casa Branca e à criação de um novo conservadorismo mundial que dominou corações e mentes nos dois lados do Atlantico. Presenciou as conquistas do movimento feminino e a chegada de um primeiro presidente negro à Casa Branca. Também viu o fim da Guerra Fria.

Os Estados Unidos encontra-se hoje em profunda crise econômica, com grandes empresas à deriva, milhões de famílias sem renda e sem perspectiva. A bolha da industria de informática, da qual Jobs tornou-se o maior expoente, foi uma espécie de estágio preparatório da crise dos derivativos e das hipotecas de segunda linha.

A explosão de sua empresa coincidiu com um período de empobrecimento da maioria da população americana e um aumento espantoso na desigualdade entre ricos e pobres.

Não sabemos a opinião de Steve Jobs a respeito de nenhum desses acontecimentos. Se ficou indignado com alguma coisa, não nos fez saber. Também não há notícia de suas críticas.

Tampouco há noticia de que tenha se engajado a favor de causas relevantes. Recentemente, o multibilionário Warren Buffett foi capaz de vir a público para dizer que os ricos devem dar sua contribuição para tirar o país da crise e pagar impostos mais altos.

Ocupado com a própria saúde, até se compreende que, nos últimos tempos Jobs não tivesse condições para ocupar-se destes temas.

Mas esse comportamento é anterior.

É como se ao longo de toda vida ele tivesse feito um esforço permanente para manter um encantamento em torno de suas empresas e seus lançamentos, evitando atitudes que pudessem produzir manchas e até rachaduras na atmosfera de sonho tecnológico que elas transmitem.

É como se ele nunca tivesse deixado de olhar para a humanidade como 6 bilhões de clientes em potencial.

Sem fazer juizos de valor, cabe uma observação. Em tempos de incertezas globalizadas, Steve Jobs deixou o retrato de um individualismo em ponto máximo.

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