Obama luta para assegurar os votos latinos
Embora a campanha para a reeleição do presidente americano, Barack Obama, esteja focada no público latino, analistas afirmam que a tarefa para conquistar os votos desta franja de eleitores poderá ser mais trabalhosa, devido a uma série de promessas não cumpridas. Em busca de um segundo mandato nas eleições de 2012, Obama já começou a fazer campanha em alguns canais de televisão e rádios dos Estados Unidos mais virados para a audiência latina. Com a frase “temos um presidente pronto para lutar”, Obama tenta obter o apoio dos hispânicos – grupo com maior crescimento demográfico do país, representando 8,7 por cento dos eleitores dos EUA. No entanto, especialistas prevêem dificuldades nesta empreitada. ”Há uma sensação de decepção entre os latinos, pois questões que eram apontadas como prioritárias não foram tratadas assim, num contexto em que a situação económica se transformou no centro das políticas (de Obama)”, afirmou à BBC Erwin de León, pesquisador do Urban Institute, de Washington. Item por item, a situação dos latinos durante o governo Obama parece nada ter mudado ou substancialmente muito pouco. Reforma na imigração Uma das promessas não cumpridas que podem prejudicar a campanha de Obama relativamente aos hispânicos é a reforma nas leis de imigração do país. Numa entrevista antes da eleição de 2008, o então candidato Barack Obama prometeu que “no primeiro ano (do seu mandato) teremos uma lei de imigração que defendo fortemente”. Mas a reforma nas leis de imigração continua a ser um desejo e uma exigência dos grupos latinos e os Estados Unidos continuam com 12 milhões de pessoas em situação ilegal. Numa mesa redonda para responder a perguntas de latinos na Casa Branca, realizada na quarta-feira, Obama apontou como responsáveis por este quadro a oposição republicana, que, segundo ele, não tem um liderança para apresentar uma proposta de debate e negociar um acordo bipartidário que se converta em lei. ”A promessa quebrada da reforma da imigração é o grande elefante branco na relação do presidente com os eleitores latinos. É preocupante, pois continua a culpar o processo legislativo e não tem coragem para enfrentar um Congresso imaturo”, disse à BBC Jorge Mario Cabrera, porta-voz da pelos Direitos dos Imigrantes. ”Acreditamos que (Obama) nos apoia de forma incondicional, mas poderia usar a sua autoridade para aliviar os problemas dos milhões em situação ilegal”, afirmou. ”O problema é que, na prática, Obama deve responder por um número de deportações que, este ano, vai superar em número assimrealizadas nos mandatos de George W. Bush”, disse o pesquisador Erwin de León. ”O desespero de parte do governo em provar a sua boa-fé com os hispânicos neste tema, mas sem acções de força, permitiu que aqueles que são contra a imigração e os conservadores que ocupam lugares de decisão, onde realmente o poder se exerce, definissem o debate”, afirmou. DreamAct Uma lei prometida por Barack Obama, a DreamAct, permitiria que dois milhões de jovens em situação ilegal, a maioria latinos, requeressem a cidadania se completassem pelo menos dois anos de estudos no nível superior com bom rendimento académico ou se servissem nas Forças Armadas. Uma versão da lei, com o apoio do presidente e de democratas do Congresso, foi aprovada na Câmara dos Representantes (deputados federais) em Dezembro de 2010, mas não conseguiu os votos necessários no Senado. Na mesa redonda para os latinos, na última quarta-feira, Obama afirmou que a ideia de que ele poderia, de forma unilateral, mudar e converter em leis os projectos é “simplesmente falsa” e voltou a responsabilizar os republicanos. ”É decepcionante, pois pensamos que finalmente teríamos respostas, mas a realidade é que somos dezenas de milhares de jovens que não fizeram nada de errado (…), mas não podemos matricular-nos em algumas universidades e não temos direito a ajuda económica, o que, na prática, nos deixa fora do sistema”, disse Juan Escalante, da organização DreamActivist. Educação A situação da educação básica da comunidade latina não melhorou durante o governo de Obama. O governo reconheceu que precisa de fazer mais investimentos, além de formar professores que lidem com estudantes cujo primeiro idioma é o espanhol e de aplicar programas para aqueles que têm dificuldades no aprendizado do inglês. Na prática, entretanto, apenas metade das crianças latinas frequentam a pré-escola e os índices de abandono dos estudos em alguns Estados chega a 50 por cento. Além disso, apenas metade dos estudantes latinos conseguem formar-se no ensino secundário, de acordo com o secretário de Educação, Arne Duncan. No entanto, os efeitos vão além do ensino básico. Actualmente, apenas um em cada oito latinos tem diploma universitário. “Há uma preocupação a um nível muito básico, dentro das famílias, sobre qual será o futuro dos seus filhos num país que está a falar em prepará-los para desafios básicos. Não há uma questão partidária aqui, pois o problema é de longa data, mas havia muita esperança de que este presidente tomaria uma medida mais concreta”, disse à BBC Saba Bireda, directora do Centro para Investigação da Pobreza e Raça. Empregos No meio de uma grave crise, os índices de desemprego indicam que, para os latinos, a situação é ainda pior do que para o resto dos americanos. A taxa de desemprego nos EUA, em termos gerais, está em 9,1 por cento, mas chega a 11,3 por cento nesta faixa da população. A situação está especialmente crítica para pelo menos 1,1 milhões de latinos, que procuram um trabalho há seis meses ou mais, sem sucesso. A somar a isso, há o aumento do controlo da imigração, que fez com que muitos dos que estão em situação ilegal e trabalhavam no mercado informal agora encontrem limitações para conseguir emprego nas empresas, que não querem contratá-los sem documentos formais. Segundo observadores, uma das razões para esta situação é que os latinos são a maioria nos sectores da construção e indústria, duas áreas muito atingidas pela crise de 2008. Em princípios de Setembro, Obama lançou a sua “iniciativa para o emprego” (AJA, na sigla em inglês). Com esta iniciativa, o presidente tenta injectar recursos na economia americana com ideias como o plano de investimentos em infra-estrutura, medidas de criação de empregos e incentivos fiscais para empresas que contratem novos funcionários. Obama agora faz campanha pela AJA, sabendo que a sua aprovação traria alívio não apenas para a comunidade hispânica. No entanto, os críticos da iniciativa afirmam que ela pode não ser suficiente: estima-se que existam 25 milhões de pessoas sem emprego no país, um número maior do que o projecto poderia beneficiar. Pobreza Os números relativos à pobreza nos Estados Unidos também são piores para os latinos. O escritório responsável pelo censo no país indicou que 15,1 por cento da população vive abaixo da linha de pobreza. Em 2007, antes da vitória de Obama, este índice era de 12,5 por cento. Entre os latinos, o nível de pobreza é bem mais alto do que entre os brancos não latinos: 26,6 por cento, contra 9,9 por cento. Actualmente, mais de um em cada quatro latinos é pobre e mais de 30 por cento destes não têm plano de saúde, público ou particular, o que os deixa fora do sistema básico de saúde. Ao mesmo tempo, com a crise fiscal, são feitos cortes em programas sociais, como o Medicaid, um programa no qual os latinos são, em grande parte, beneficiários. Obama afirma que as melhorias introduzidas pelo seu governo neste sector são um avanço, mas a lei relativa ao sector da saúde ficou longe dos objectivos anunciados durante a campanha. De acordo com pesquisas da Universidade de Michigan, serão necessários entre seis e sete anos para reverter os números relativos a pobreza para os níveis observados no ano 2000, abaixo de 12 por cento. Mas este é um prazo pouco promissor para uma eleição presidencia
l em 2012.
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