Herman Cain II

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Herman Cain II

Barack Obama é um político sortudo. Tem o azar da economia, mas o plantel de oponentes republicanos ajuda um presidente que deveria, pela lógica, perder as eleições de 2012. Sei, sei, novembro do ano que vem ainda está longe. Mas enquanto a eleição não chega, os republicanos vão se destroçando na sua guerra civil, vão se avacalhando. Batalhas partidárias intestinas são normais, mas esta confirma que estamos em um ano inusitado. Vamos começar, é claro, por Herman Cain. Este colunista errou. Foi camarada e escreveu sobre Cain em meados de outubro dizendo que ele não seria o sabor da semana, mas do mês. E já estamos em novembro.

Cain tem espaço, não apenas por sua condicão insólita de liderar algumas pesquisas na corrida republicana, mas pela controvérsia da semana sobre sua conduta sexual inapropriada nos anos 90, quando era lobista-chefe da indústria de restaurantes. São múltiplas alegações que geram explicações contraditórias. Cain muda as versões sobre o que aconteceu com leviandade e cara de pau. Enrola-se cada vez mais. Barata tonta, ele já disse que a imprensa liberal está praticando linchamento porque não gosta de negro conservador e chegou a acusar o rival texano Rick Perry de ter espalhado a história (esta última versão tem uma certa lógica diante das sujeiras de campanha eleitoral). É constrangedor para o Partido Republicano que Cain tenha atingido o topo das pesquisas, mesmo antes desta controvérsia sexual.

O homem faz apologia de sua ignorância. Como Lula, que adora metáfora de futebol sobre qualquer coisa, este aí abusa de metáfora sobre pizza, sua especialidade, pois foi executivo de cadeias de pizzarias. Uma recente gafe de Cain foi advertir que os chineses podem desenvolver armas nucleares. Alguém já recomendou a Cain consultar o Google antes de falar besteira? Primeira bomba chinesa explodiu em 1964. A maioria dos cidadãos não sabe destas coisas, mas será que realmente deseja ter um presidente que entende de pouca coisa além de pizza?

Alguns conservadores (nem todos, muitos estão constrangidos com o cometa Cain) ficaram furiosos com os liberais, por sua condescendência, tratando Cain como se fosse um “tio Tomás”, um negro obsequioso com os brancos, Mas muito mais vexaminosa foi a condescendência de Perry ao botar para baixo a inteligência do rival. Imagine, Rick Perry. A piada é a seguinte: sabe qual é a diferença entre os texanos Perry e George W. Bush? O ex-presidente é o cerebral dos dois.

O maior escândalo em tudo isto é a incrível tolerância dos eleitores republicanos com candidatos como Herman Cain e Rick Perry. E as primeiras pesquisas nesta sexta-feira, depois das revelações, confirmam como Cain resiste. Ele continua no topo, disputando a liderança republicana com Mitt Romney. Meu Deus, será que ele será o sabor por alguns meses?

Estas bolhas existem pois a base do partido não engole Romney, um candidato com defeitos, mas que para esta base peca basicamente por ser mais moderado e impuro do que a tropa de choque radical e ignorante. Há também uma exasperação mais generalizada contra o “sistema”, `a direita e `a esquerda. Usando uma expressão de outros tempos da política brasileira, há espaço para “cacarecos” no jogo eleitoral.

Quanto a Romney, ele é inconsistente e um contorcionista, ajustando suas posições de acordo com a freguesia política (sua última foi se posicionar contra o aquecimento global após assumir sua existência). O venenoso comentarista (bem conservador) George Will fez uma bela maldade ao definir Romney como o “pretzel man”.

Está tudo salgado para Barack Obama, mas ele pode se dar ao luxo de sentir um sabor de vitória. Só o gostinho. Estão aí os modelos estatísticos. Com sua atual taxa de aprovação e economia estagnada, Obama perderia, mas falta combinar com o outro time.