The Exportation of Torture

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Um jornal sueco e uma televisão alemã detectaram na capital da Roménia, Bucareste, uma casa que foi utilizada pela CIA, agência norte-americana de serviços secretos e espionagem, para prender e torturar suspeitos detidos no âmbito da chamada “guerra contra o terrorismo”.

Agora em Bucareste tal como anteriormente em Vilnius, na Lituânia, e também na Polónia. Passo a passo, quase sempre como resultado de investigações não oficiais, vai-se identificando a rede de terror montada por Washington na Europa – e também noutros continentes – a pretexto da guerra contra o terror. Sem contar com as numerosas manobras de diversão e mentiras de dirigentes de vários países da União Europeia a propósito de terem permitido que os seus espaços aéreos fossem utilizados para voos ilegais que transportavam detidos à guarda da CIA. Também tem algum significado o facto de as prisões secretas norte-americanas terem sido instaladas em países que, até 1990, pertenceram ao Tratado de Varsóvia e que logo transitaram sumariamente para a OTAN e, depois, para a União Europeia.

Segundo a investigação jornalística, a prisão em Budapeste tinha o romântico nome de código de “Luz Brilhante” e foi alugada pela CIA a um organismo romeno, o ORBISS, que armazena e processa dados secretos da União Europeia e da OTAN.

O ORBISS nega que o tenha feito, a CIA recusa-se a comentar. Sob a “Luz Brilhante”, mas certamente em instalações bastante soturnas, os esbirros da CIA detiveram pessoas e praticaram a extracção de confissões através de tortura, comportamentos que as leis norte-americanas os impedem de fazer em solo pátrio. Estas manobras extra-judiciais tiveram igualmente um nome de código, “Rendição Extraordinária”, também ele paradoxal porque nada tem de extraordinário um ser humano render-se sob efeito de tortura.

Os trabalhos jornalísticos e também uma investigação do Conselho da Europa, que a CIA considerou “parcial e distorcida”, demonstram que nestas prisões secretas em territórios estrangeiros, de Guantanamo a Vilnius, de Abu Grahib a Bucareste, os agentes norte-americanos usaram métodos de tortura como privação do sono, estátua e aquele que se tornou a sua imagem de marca, o waterboarding, a sujeição dos detidos à simulação de afogamento.

Dir-se-á que as vítimas não eram uns santos e eram suspeitos de organização e participação em atentados terroristas, entre eles o 11 de Setembro. Que seja. Mas a palavra suspeito não deixa dúvidas, destina-se aos que não têm culpa formada e, segundo os cânones de quem, neste caso, os tinha em seu poder, a culpa não pode ser arrancada através de tortura.

É a hipocrisia à moda de Frei Tomás, olha ao que ele diz e não ao que faz. Raro é o dia em que dirigentes norte-americanos e aliados não pregam o sermão dos direitos humanos, do Estado de direito, do combate à tortura e às detenções ilegais e depois, todas estas piedosas intenções se desmoronam entre quatro paredes de um tugúrio sórdido de Bucareste.

A tortura não deixa de ser tortura quando praticada em terra dos outros para que, no solo pátrio, vigorem as aparências do primado do direito, da superioridade moral e civilizacional.

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