Irã Nuclear
Nada como chegar ao final do ano com especulações radioativas sobre a crise nuclear iraniana. De um lado, temos as ameaças do Irã de fechar o estreito de Ormuz, artéria por onde passa 1/5 do suprimento de petróleo do mundo, no cenário de um possível embargo por países ocidentais das exportações de petróleo iraniano, como parte das sanções, até agora infrutíferos, para o regime de Teerã presidido por Mahmoud Ahmadinejad abandonar seu programa nuclear. Para o Irã, sanções diretas ao seu setor petrolífero (e também contra o seu Banco Central) representam uma virtual declaração de guerra econômica.
Mais intrigante é o que se passa do outro lado, além dos disparos retóricos de praxe que se seguiram às ameaças iranianas de que os EUA não vão tolerar um bloqueio no estreito de Ormuz. São as informações de que o governo Obama tenta assegurar Israel de que irá lançar seu próprio ataque contra as instalações nucleares iranianas se alguns limites forem utrapassados por Teerã no seu programa nuclear. Washington faz isto enquanto tenta dissuadir os israelenses de agirem de forma unilateral. Este malabarismo de Obama acontece no circo eleitoral quando os republicanos tentam seduzir eleitores e doadores de campanha judeus.
O presidente democrata em campanha de reeleição precisa assegurar que o Irã não consiga sua bomba nuclear durante o seu mandato (e ele espera, é claro, que o primeiro não seja o último) enquanto teme que um ataque preventivo de Israel contra o Irã possa levar a incêndios de proporções imprevisíveis no Oriente Médio. E como isto não aconteceria com um ataque americano?
Existe um alto grau de desconfiança entre Obama e o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu (que prefere um republicano na Casa Branca), Há uma desconfortável aliança entre os dois. Nestes termos, a diplomacia americana tenta acalmar os irriquietos israelenses, que, com razão, se consideram um alvo preferencial de um programa nuclear iraniano com fins militares.
Os EUA teriam traçado as chamadas red lines (linhas vermelhas, no jargão diplomático), que justificariam um ataque preventivo americano contra as instalações iranianas. Num provocativo artigo na publicação Foreign Affairs, Matthew Kroenig, ex-assessor espeical para Irã no Pentágono (no próprio governo Obama) traça estas possíveis linhas vermelhas. Um ataque preventivo americano ocorreria nas seguintes condições: expulsão de inspetores nucleares internacionais, enriquecimento de urânio acima de 90% ou instalação de centrífugas avançadas na usina de Qom.
Os argumentos de Kroenig são explosivos e mais fáceis de serem ventilados por alguém que não está mais no governo, A ladainha oficial é de que “todas as opções estão na mesa”. Atualmente no Council on Foreign Relations, Kroenig diz que um ataque americano contra o Irã é mais aceitável num leque de opções intragáveis. Um outro ex-alto funcionário americano que esteve intimamente ligado `a questão nuclear no governo Clinton, Robert Gallucci, recentemente escreveu um artigo no New York Times criticando o governo Bush por não ter adotado uma linha dura com a Coréia do Norte quando ela transferiu tecnologia nuclear para a Síria.
Gallucci observou acidamente que sem um ataque preventivo de Israel em 2007, os sírios já poderiam ter um programa nuclear bem desenvolvido. O recado de Kroenig e Gallucci é claro: sanções não-militares ou sabotagem podem desacelerar o desenvolvimento nuclear de um país, mas não abortá-lo. Há, é verdade, casos de países que abandonaram seus programas nucleares em circunstâncias especiais, não relacionadas a sanções, mas a fatores domésticos (fim do apartheid na África do Sul) ou temor de ação militar (Líbia, depois da invasão americana do Iraque em 2003)
Estão aí, portanto, as opções intragáveis: métodos não militares que talvez não impeçam o Irã de se converter em uma Coréia do Norte ou um ataque preventivo que pode falhar e provocar, vai saber, incêndios incontroláveis no Oriente Médio. Pergunta de sempre, menos radiotiva: alguma terceira via? No máximo, dá para visualizar sanções tão severas, no status de guerra econômica, que estrangulem a economia iraniana e levem à implosão do regime.
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