The Inevitable Mitt Romney,Boring and Good News

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O inevitável Mitt Romney, uma chata e boa notícia

As primárias presidenciais republicanas já tiveram suas preliminares. Trata-se um reality-show com seus ensaios e eliminatórias. Para a desolação de muitos ativistas, espectadores no sofá e a imprensa, o espetáculo em si corre o risco de ser muito rápido, anticlimático. Agora na terça-feira, teremos as primeiras prévias no estado de Iowa e na terça-feira da semana que vem será a vez de Nova Hampshire. Existe uma certa fluidez nas pesquisas e nos sentimentos dos eleitores, mas há uma forte possibilidade que Mitt Romney, que nunca foi o favorito da base aguerrida, purista e mais conservadora dos republicanos, ganhe estas duas primeiras etapas e assim praticamente abra o caminho assim cedo para a consagração como o candidato do partido contra Barack Obama em novembro próximo.

Existe ainda um pouco de suspense e um potencial de uma luta interna autodestrutiva. O excêntrico Ron Paul pode até ganhar em Iowa (algo improvável). Existe um limite para tolerar a honestidade extremista de Ron Paul (conhecido por martelar contra gastos públicos e pregar isolacionismo em política externa), agora que pipocam as revelações sobre sua tolerância para aceitar o apoio de supremacistas brancos, racistas, anti-sionistas e os mais lunáticos entre téoricos da conspiração sobre isto ou aquilo. Há também uma escalada de apoio desesperado para Rick Santorum, uma espécie de último moicano entre os conservadores que topam qualquer um menos Mitt Romney. Mas Ron Paul e Rick Santorum não têm para onde ir, além de Iowa. Se persistirem as dúvidas por várias rodadas das primárias, maior será a autoflagelação republicana.

Mesmo um sólido segundo lugar em Iowa será suficiente para Romney cristalizar um triunfo prematuro. Chato para nós, jornalistas. Má notícia. Pelo menos este reality-show perderá as emoções, sentiremos falta das gafes e das bizarrices. A última que ouvi foi do inefável governador do Texas Rick Perry, saudando a possibilidade de mais petróleo canadense nos EUA para o país não depender de “fontes estrangeiras”.

Será também, é claro, má notícia para Barack Obama, pois mostrará o cálculo resignado dos republicanos de que um candidato mais moderado (embora de pouco carisma) é a arma mais efetiva contra o presidente democrata em busca de reeleição. Mas será boa notícia para um país que precisa de um debate mais sério, mais adulto, sobre o futuro. É preciso ser um liberal tão transloucado como os ultraconservadores para não admitir a valiosa contribuição que republicanos e Romney trazem para a agenda, como no debate crucial sobre o tamanho apropriado do estado e os limites de sua atuação.

É fundamental para a saúde fiscal e mental do país um Partido Republicano que contrabalance o paternalismo democrata e o inchaço estatal. Mas eu, pessoalmente, acho insano um partido incapaz de abrigar (ou sequer respeitar) americanos com posições sociais, morais e religiosas mais moderadas, mesmo aqueles adeptos de um conservadorismo fiscal. Tampouco faz sentido promessas pétreas de nunca, nunca, aumentar os impostos (infelizmente Romney participou deste farsa).

Haverá muitas oportunidades ao longo de 2012 para falar da corrida presidencial, mas na primeira incursão do ano queria apenas enfatizar este praticamente inevitável Mitt Romney e registrar o alívio com seu mais recente desempenho. Num recente comício no território evangélico na cidade de Sioux City, em Iowa, o mormón Romney (muitos evangélicos consideram o mormonismo um mero culto) não paparicou a base com o típico discurso mencionando os três Gs (God, guns and gays). E quando fez críticas a Obama (e seu esforço para criar um estado de privilégios e não de oportunidades), Romney não apelou para os clichês do talk-radio sobre o sinistro presidente socialista ou o perigo de implantação de lei muçulmana (sharia) nos EUA se ele permanecer no poder.

Meio monótono, mas é melhor mais realidade e menos reality-show.

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