The Death of a Terrorist and Counter-Insurgency

Edited by Audrey Agot

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A morte do terrorista e também da contra-insurgência

Duas notícias ilustrativas esta semana na frente de contraterrorismo. A primeira foi o anúncio dos EUA na terça-feira da morte, via ataque com avião não tripulado, nos confins do Paquistão, de Abu Yahya al-Libi, o número 2 da rede terrorista Al Qaeda. E a segunda notícia, revelada pelo jornal New York Times, foi a de que o comando das forças especiais americanas teve rechaçado o pedido para expandir sua atuação, inclusive com autoridade para treinar e equipar forças locais em países como Iêmen e Quênia.

Este é um raro rechaço. pois o almirante Wiliam McRaven, no comando das operações especiais, é um queridinho da Casa Branca, em tempos de orçamento militar mais enxuto e menos apetite popular por longas guerras de ocupação, como no Afeganistão. McRaven é um herói, especialmente depois de ter supervisionado a operação que resultou na morte de Osama Bin Laden, no Paquistão, há pouco mais de um ano.

O almirante quer mais autoridade, ou seja, mais autonomia para posicionar o seu pessoal e também expandir as forças especiais para regiões onde não opera em larga escala na Ásia, África e América Latina. McRaven tem um papel chave para influenciar a estratégia americana de combate ao extremismo, mas ele acaba mexendo em vespeiros e feudos no Congreso (que libera verbas), Departamento de Estado e comandos militares tradicionais.

O recado foi para ele ir um pouco mais devagar com o seu andor. Mas não ha dúvida que o impetuoso McRaven sinaliza o caminho, embora não sempre seja iluminado, pois é uma guerra nas sombras, inclusive com a polêmica sobre legalidade em decisões pessoais do próprio presidente Barack Obama sobre alvos (até cidadãos americanos) dos aviões não tripulados.

No debate estratégico, a contribuição de George Friedman, presidente da empresa de consultoria Stratfor, é sempre valiosa, nestes tempos em que o governo Obama se afasta cada vez mais de guerras convencionais para operações menores que combinam inteligência com forças especiais e ataques com aviões não tripulados. Friedman acaba de publicar um texto, posicionando-se claramente a favor de operações mais ágeis e enxutas de contraterrorismo.

Ele aponta o esgotamento da doutrina de contra-insurgência (que implica em ocupação de território no combate a insurgentes).  Nas palavras de Friedman, “Vietnã, Iraque e Afeganistão mostram que os militares americanos não são muito bons em contra-insurgência. Pode-se argumentar que os EUA podem melhorar suas capacidades de contra-insurgência, mas existe pouca evidência de que isto seja possível”.

Por esta razão, Friedman defende um tipo de guerra na qual os EUA se saem bem. Ganhar de forma penosa e custosa o apoio, corações e mentes da população com ocupação de territórios (assistência econômica, modernização e nation-building) é geralmente tarefa de Sísifo, neutralizada pela mera ocupação. Melhor ter objetivos militares definidos através de operações mais rápidas e leves, com o uso de forças especiais ou até mesmo fuzileiros navais. Na estimativa de Friedman, estas operações não incorrem no custo político associado a prolongadas operações de contra-insurgência e ocupação de territórios. No caso do Afeganistão, por exemplo, para ele é essencial que o país deixe de ser uma base ou santuário para o terror. O tipo de governo vigente é o de menos. Basta não dar guarida a terroristas.

É um debate crucial, com argumentos mortíferos dos dois lados (sendo inclusive travado dentro da Academia Militar de West Point), mas vale lembrar que mesmo estas operações mais ágeis e nas sombras com forças especiais e aviões não tripulados também trazem um custo político. Há o debate doméstico (nos EUA) sobre sua legalidade, na política de assassinatos seletivos, na qual Obama assume um papel direto. E temos o processo de deterioração das relações dos EUA com seu desajustado e nada confiável aliado paquistanês, além do aumento do antiamericanismo, na medida em que os ataques com aviões não tripulados são vistos como uma violação de soberania, mesmo quando os alvos são os piores tipos de delinquentes políticos.

Para os americanos,  o custo é menor. Resta saber se os resultados serão maiores, com mais contraterrorismo e menos contra-insurgência. E resta saber se Obama estará aí por mais quatro anos para consolidar a doutrina.

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