A crise europeia e as eleições americanas
Ainda antes da ajuda financeira à Espanha — que o Governo de Madrid insistentemente desmente ser um resgate — já os comentadores políticos norte-americanos tinham escrito intensamente sobre a ligação umbilical entre a crise da dívida soberana europeia e o desfecho da eleição presidencial nos Estados Unidos, concordando quase todos no seu diagnóstico de que uma recessão europeia ou, no pior dos cenários, um eventual colapso do euro antes de Novembro compremetem seriamente (irreparavelmente?) a hipótese de um segundo mandato de Barack Obama na Casa Branca.
É um facto que desde que rebentou a crise financeira (ainda em 2008) nenhum candidato “incumbente” logrou assegurar uma vitória eleitoral. No caso dos Estados Unidos, apesar de não haver uma continuidade individual — George W. Bush não podia mais recandidatar-se e o concorrente republicano John McCain não era claramente um político que seguia a linha da sua Administração — houve uma mensagem forte do eleitorado no sentido de uma mudança de paradigma. Na Europa, tem sido o que se conhece: nenhum Governo dos países intervencionados resistiu nas urnas, e mesmo a Espanha, que mudou de Governo antes do pedido de assistência financeira, já o fez sob o espectro da bancarrota. O Reino Unido, que não tem o euro e votou muito antes de começar a confusão em Bruxelas, escolheu o caminho de austeridade proposto pelos tories, numa censura evidente dos anteriores Governos trabalhistas. Os sinais não são, portanto, encorajadores para Obama.
É verdade que o caminho seguido pelos Estados Unidos e a Europa na resposta à crise financeira foi substancialmente diferente. Em vez da disciplina e austeridade, a Administração americana preferiu o estímulo — injectando dinheiro na economia para salvar empresas e aguentar (na medida do possível) postos de trabalho. E apesar da extrema interdependência económica entre os dois blocos atlânticos, os Estados Unidos têm meios próprios para resistir (mais uma vez dentro do possível) ao embate de uma recessão europeia.
É aí que a questão se torna inteiramente interna. É do interesse eleitoral dos adversários políticos do Presidente que o país não recorra a esses meios. Foi essa a postura que assumiu desde o princípio a bancada republicana no Congresso — e evidentemente agora é o momento de menor incentivo a um compromisso ou cedência à Administração. Como James Carville sabiamente decretou há 20 anos, “é a economia, estúpido” que decide as eleições.
Alguns pontos de vista aqui, aqui e alguns números que ilustram o risco económico europeu para os Estados Unidos aqui.
E aqui, um apontamento interessante sobre a vantagem de ser “incumbente” na política eleitoral americana.
Rita Siza
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