Edited by Gillian Palmer
WASHINGTON – Era para ser uma campanha promissora para Mitt Romney, o candidato republicano que emergiu de uma disputa acirrada nas primárias partidárias como o mais centrado e competente entre seus pares.
A economia patina. A popularidade de Barack Obama deu lugar, em boa medida, à decepção. O sucesso democrata em levantar fundos ainda não se repetiu. E a polarização partidária deu aos anti-Obama uma enorme motivação para votar.
Eis que Romney, um sujeito conhecido — ou que tenta se fazer conhecer — pela eficiência como executivo consegue varrer para o lixo o que seria vantagem. Não, Romney não tem nenhum segredo sórdido, nenhum chefe de campanha maluco e nenhum vice despreparado.
O candidato fez tudo sozinho, no presente, conscientemente e com a própria língua.
Sua empreitada mais recente pela autodetonação é o vídeo, levado ao ar pela revista de esquerda “Mother Jones” (acima) e feito com uma câmera secreta, por uma fonte mantida em anonimato, no qual ele diz para potenciais doadores de campanha que “não se importa” com uma parcela de 47% do eleitorado que, a seu ver, vota em Obama faça sol ou chuva, não paga impostos, depende do sistema etc etc. O tom é de desdém.
Não me parece que Romney esteja afirmando que, caso seja eleito, vai desprezar essas pessoas (embora alguns pontos da plataforma republicana me deixem em dúvida). O que entendi é que ele não se importa em conquistar os votos dessas pessoas porque elas já são, para ele, um caso eleitoral perdido.
Mas não importa. Esta campanha está sendo feita de comerciais negativos.
Da mesma forma que a campanha de Romney pegou uma frase de Obama dizendo que o sucesso individual é produto também de uma sociedade bem estruturada e transformou em uma afirmação de que o presidente acha que o Estado é o grande responsável pelas conquistas pessoais, não passará um dia para a campanha democrata pegar a frase de Romney e dizer que ele está se lixando para os pobres e vai ignorá-los se eleito.
Outra coisa. Por mais que o candidato queira ser pragmático e direto com quem banca sua campanha, não é politicamente — e muito menos eticamente — saudável você assumir que seu discurso se volta para apenas uma parte do eleitorado.
Romney não merece levar o (des)crédito sozinho. Esta eleição está polarizada de tal forma que parece realmente que as campanhas viraram apenas um amplificador que alterna raiva da oposição e discurso para base (possivelmente, para um ou outro centrista contemplativos — estes, cada vez mais escasso).
Mas ao colocar o pensamento eleitoral pragmático em palavras, por mais que em um evento privado (só que com gente demais para achar que seria tudo segredo), Romney atrai para si toda a antipatia do cidadão classe-média-baixa, das pessoas que mal fecham as contas no fim do mês, dos revoltados com a desigualdade e das pessoas preocupadas com essas pessoas. De quebra atrai também a ira de políticos e estrategistas que sabem que uma mensagem de campanha precisa ser o mais inclusiva possível.
Sim, o bordão de que “corporações são pessoas”, dito no início da campanha, virou piada e teve impacto entre o eleitorado progressista, mas é difícil crer que um centrista (ou menos ainda um liberal) tenha mudado de lado por causa da declaração.
Chamar metade da população americana de irresponsável e dependente, porém, e culpar 150 milhões de pessoas por terem dificuldades em pagar as contas é atingir um novo grau de falta de noção. Um grau, talvez, irremediável.
None of this matters because the Republicans are at work on many fronts to disenfranchise as many Democrat voters as possible. And if too many do somehow get to the polls, there are schemes in place for “misplacing” their votes.
So,congratulations Mitt Romney; you follow in the brave footsteps of George W. Bush.