7.8 Percent

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Que difer­ença faz um dia, deve pen­sar hoje a cam­panha do repub­li­cano Mitt Rom­ney, que teve pouco mais de 24 horas para gozar da sua con­vin­cente per­for­mance con­tra Barack Obama no primeiro debate tele­vi­sivo das pres­i­den­ci­ais amer­i­canas. A sua vitória no duelo era essen­cial para mudar a nar­ra­tiva da cam­panha. A divul­gação, esta manhã, da queda da taxa de desem­prego dos Esta­dos Unidos para 7,8%, o valor mais baixo desde que Obama chegou à Casa Branca, mudou-a outra vez: sendo a econo­mia (e con­se­quente­mente o emprego) a questão essen­cial da eleição, os números de hoje serão uma história bem mais impor­tante para os media e sobrepor-se-ão à cober­tura do rescaldo do debate de quarta-feira.

Nen­huma das cam­pan­has des­can­sou depois de quarta-feira, e os dois can­didatos apare­ce­ram com ren­o­vada ener­gia em comí­cios do dia seguinte. Rom­ney aproveitou para saborear uma das primeiras ovações ver­dadeira­mente sen­ti­das da facção con­ser­vadora, que desde o iní­cio da cam­panha descon­fiou das cre­den­ci­ais do can­didato repub­li­cano. Ironi­ca­mente, ela acon­tece depois da acen­tu­ada guinada de Mitt Rom­ney para o cen­tro e depois do ex-governador ter ensa­iado um dis­curso que vai ao arrepio das ideias defen­di­das pela facção mais à dire­ita do par­tido. Mas os títu­los pós-debate ani­maram as bases, que da descrença pas­saram nova­mente a acred­i­tar que será pos­sível bater o Pres­i­dente. Um sinal defin­i­tivo de que a con­fi­ança regres­sou à cam­panha repub­li­cana foi que Rom­ney aproveitou o momento para se pen­i­ten­ciar pelo seu comen­tário sobre os 47% de amer­i­canos que não pagam impos­tos a nível fed­eral (e por isso seriam, no seu raciocínio, depen­dentes do Estado a quem inter­essa a reeleição de Obama) — o seu tim­ing não pas­sou desapercebido.

Já Barack Obama procurou usar a vitória retórica de Rom­ney con­tra ele:

“Quando pisei o palco [em Den­ver] deparei-me com um tipo muito espir­i­tu­oso que dizia chamar-se Mitt Rom­ney. Mas não podia ser ele, porque o ver­dadeiro Mitt Rom­ney anda por todo o país há mais de um ano a prom­e­ter 5 bil­iões de cortes fis­cais a favor dos ricos, e o tipo no palco dizia que não sabia nada sobre disso”.

A nova estraté­gia da cam­panha democ­rata é voltar as palavras de Rom­ney no debate con­tra as palavras de Rom­ney na cam­panha e no seu man­i­festo eleitoral, e matraquear a ideia de que, mais uma vez, o can­didato repub­li­cano — qual vende­dor da banha da cobra — está a dizer o que os amer­i­canos querem ouvir para ser eleito. Depois de car­ac­teri­zar o repub­li­cano como um mil­ionário que não se pre­ocupa com a classe média e gov­ernará para o grupo de 1% de mil­ionários, os democ­ratas querem explo­rar o aparente vazio ide­ológico e a falta de con­vicções pro­fun­das de Rom­ney, o flip-flopper.

As estatís­ti­cas rel­a­ti­vas à queda do desem­prego favore­cem a cam­panha de reeleição do Pres­i­dente não só porque vêm desviar as atenções da sua desas­trosa prestação no debate tele­vi­sivo como per­mitem con­trariar o argu­mento dos repub­li­canos de que são as receitas da sua Admin­is­tração que estão a pro­lon­gar a recessão e a impedir o cresci­mento económico do país (e a cri­ação de emprego).

O facto de a primeira reacção da oposição ter sido pôr em causa a idonei­dade do Depar­ta­mento de Tra­balho, que col­ige as estatís­ti­cas, e acusar a agên­cia gov­er­na­men­tal (que é apartidária) de manip­u­lação política dos números, é um inequívoco sinal das difi­cul­dades da cam­panha repub­li­cana — mais uma vez acos­sada pela incon­sistên­cia e dis­sonân­cia entre o seu dis­curso e a realidade.

Rita Siza

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