US Election: Decision in Times of Crisis

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Folha de São Paulo– Brasil

Eleiҫão nos EUA— Decisão em tempos de crise

WASHINGTON – Faltam apenas 36 dias para as eleições e a campanha de Mitt Romney se depara com o seu maior desafio até agora: reverter a narrativa dominante de que ele vai perder e convencer o eleitorado — e os financiadores — a não desanimarem.

Romney precisa ir bem nos debates para convencer eleitores de que segue firme no páreo

Goste-se ou não da plataforma democrata, a convenção do partido de Barack Obama foi muito mais eficaz ao passar sua mensagem. Tão eficaz que, em menos de um mês, a sensação de disputa acirrada cujo desfecho era uma enorme incógnita, de que seria muito, muito difícil para o presidente vencer com a economia rateando e sua popularidade combalida, parece ter se dissipado.

A narrativa de que a campanha de Romney está desacreditada passou a dominar a cobertura de mídia nas últimas semanas, e não só na imprensa progressista ou de esquerda. Veículos independentes e mesmo colunistas conservadores apontam problemas na condução da campanha do republicano — da escolha de Clint Eastwood para um enigmático monólogo durante a convenção até o comentário sobre metade do eleitorado querer depender do governo e ser, portanto, inatingível para a mensagem republicana.

Para azar de Romney, essa percepção parece estar calando no público. E aí não se trata de opinião, mas de números. E de dinheiro também. No site Intrade, que funciona como uma bolsa de apostas eletrônicas, as chances de Obama saltaram para 75% .

Para piorar, em uma pesquisa do site The Hill, 53% dos eleitores, independentemente de sua opção de voto, afirmaram achar que o presidente vai se reeleger. Antes da convenção democrata, apenas 43% acreditavam nessa possibilidade, enquanto outros 46% afirmavam que Romney sairia vitorioso (os 11% restantes não sabiam).

Seria puro “achismo”, inofensivo, se não fosse por um detalhe: o voto nos EUA não é obrigatório. Muitos eleitores podem simplesmente desistir de votar, se acharem que seu candidato não tem chance.

Da mesma forma, os doadores de campanha também podem ser levados a parar de dar dinheiro ao presidenciável e passar a focar recursos nas disputas mais acirradas por cadeiras do Senado, onde é possível reverter a vantagem democrata.

A chance de Romney reverter esse cenário está nos debates: um nesta quarta, o segundo no dia 16 e o terceiro no dia 22.

Para azar do candidato republicano, porém, o primeiro debate aborda apenas questões domésticas, sobretudo economia — quesito em que a avaliação do governo melhorou ligeiramente nas últimas semanas. Não é um campo ruim para Romney, mas o impede de acionar o que seria hoje sua principal frente de ataque: a Líbia.

O flanco mais frágil de Obama hoje é justamente a política externa (sim, é uma reversão do cenário do mês passado), com as crescentes dúvidas a respeito da estratégia americana e se os problemas no país africano foram subestimados, expondo o embaixador Chris Stevens, morto em Beghazi no último dia 11, desnecessariamente.

Romney sempre pode usar os comerciais de rádio e TV, claro. Mas os debates são acompanhados com mais atenção e por uma parcela maior para a população. Esperar até o dia 22 para abordar a política externa do presidente pode acabar sendo tarde demais para o republicano, se ele não conseguir nada que vire o jogo mais cedo.

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