Obama at the United Nations

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Obama na ONU

Barack Obama fez um discurso bonito na última terça na ONU, surpreendentemente conciliador (dado que ocorre tão pouco tempo após a eclosão dos protestos antiamericanos no Oriente Médio) e, ainda assim, firme em defender as ideias americanas.

Além de pedir tolerância, cobrou também coerência (“O futuro não pode pertencer àqueles que difamam o profeta do Islã. Para que tenham credibilidade, porém, os que condenam essa difamação também devem condenar o ódio que vemos quando a imagem de Jesus Cristo é profanada, igrejas são destruídas, o Holocausto é negado”) e união (“juntos, podemos trabalhar por um mundo onde somos fortalecidos por nossas diferenças, e não definidos por elas”).

O presidente-candidato marcou as posições de Washington (ou, ao menos, de seu governo), disse que o futuro, no conflito israelo-palestino, não deve pertencer àqueles que dão as costas à perspectiva de paz (o que soou como uma leve alfinetada em seu rival republicano) e tentou pintar um quadro no qual o copo, no Oriente Médio, está meio cheio, já que líbios, egípcios e tunisianos agora votam.

Escaldado por quase quatro anos de Casa Branca, admitiu também que democracia não se resume ao direito de votar.

Arrisco dizer que foi um dos melhores discursos que Obama já fez, resgatando o tom perseverante do início do governo, mas tornando-o um pouco mais sóbrio, amadurecido pela experiência no poder.

Não necessariamente essa evolução condiz com a evolução de sua política externa. Suas ações, nesse campo, sempre me pareceram menores do que suas palavras, e, depois de quatro anos, parece ser esta a percepção dominante ao redor do mundo (especialmente no Oriente Médio).

O centro de pesquisas Pew, um dos mais respeitados e equilibrados dos EUA, fez seu levantamento sobre atitudes globais e captou que a avaliação do presidente americano — se a política externa dele levou em conta o interesse de outros países, se ele tem sido equilibrado na questão israelo-palestina — não é das melhores. Há uma clara decepção.

 (A notar: os brasileiros são os mais otimistas na pergunta sobre Obama levar em conta seu país, com 55% de respostas positivas. Só os chineses foram também majoritários no “sim”, com 51%, mas aí desconfio que o motivo seja a rixa entre os dois.)

Mesmo assim, em muitos lugares — sobretudo na Europa — ainda há apoio à sua tentativa de reeleição. A exceção é o Oriente Médio, onde a opinião geral é a de que o democrata não merece outro mandato (a pergunta foi apenas focada em Obama, não houve menção a Mitt Romney como alternativa).

Nesta semana, também, o Gallup divulgou um levantamento segundo o qual o percentual de americanos que afirma que confia no governo para solucionar os problemas externos é o mais alto desde 2003, quando eclodiu a guerra do Iraque (66%).

Deixada de lado durante a maior parte da campanha, a política externa será tema do terceiro dos três debates entre Obama e Romney, na Flórida, em 22 de outubro.

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