In Which Costumes Should the Republicans Parade?

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Neste carnaval, eu comecei temático com a coluna sobre os blocos da Primavera Árabe e continuo na avenida. Não resisto a uma pequena diatribe sobre o Tea Party e suas fantasias.

Para quem não sabe, este é o movimento vinculado ao Partido Republicano, cujos remendos ideológicos misturam populismo contra qualquer tipo de establishment (embora empresários bilionários como os irmãos Koch ajudem a sustentar a “espontaneidade” do movimento), uma aversão visceral ao estado (desde que não sejam cortados os benefícios sociais dos seus militantes) e algumas tonalidades libertárias, que eu pessoalmente considero o aspecto mais interessante do Tea Party, embora muitos militantes também esposem o conservadorismo social.

O Tea Party entrou na avenida exatamente há quatro anos para denunciar o salto de gastos e resgates federais que marcaram a transição entre os governos Bush e Obama no pico da crise econômica. A ideia era uma insurreição ao estilo daquela deflagrada pelos colonos contra a tirania da metrópole inglesa no século 18. Obama, o alienígena = King George. Daí as fantasias (e aqui não falo das ideológicas).

Pois bem, agora o império contraataca (e não estou falando de King Barack), mas do establishment republicano, especialmente através do lendário conselheiro da corte, Karl Rove, o marqueteiro eleitoral, a destacar de Bush. Uma das fantasias de alguns setores conservadores é negar que os republicanos tenham sofrido uma derrota histórica para os democratas em novembro passado ou que o partido esteja na contra-mão da história, em temas como imigrantes, casamento gay ou mudanças climáticas.

A ficha finalmente caiu para Rove, que partiu para um esforço para recalibrar o vigor eleitoral do Partido Republicano, numa ofensiva da qual participam figuras influentes como alguns governadores (a destacar Bobby Jindal) e senadores (Marco Rubio). Rove acredita que uma prioridade seja financiar candidatos viáveis e não os ungidos pela base extremista em primárias, que possam sofrer vexames nas eleições gerais, como aconteceu em disputas no Senado nos ciclos eleitorais de 2010 e 2012.

São as lições de William Buckley, um dos pais do conservadorismo moderno, que morreu em 2008. Para Buckley, os republicanos deveriam escolher o candidato conservador mais viável eleitoralmente, naquilo que ele definia como a “política da realidade”. Agora, na esteira de Buckley, o bloco adulto dos republicanos pede passagem, depois de tantas e custosas folias.

A ideia é diluir um pouco o purismo ideológico e a obsessão contra qualquer tipo de compromisso com os democratas. Nesta realidade alternativa, vivem seguidores do Tea Party e outros conservadores. Claro que existem tonalidades de extremismo ideológico e de pragmatismo. Mas figuras como Rove, Jindal e Rubio sabem que o partido precisa evoluir. Não pode ficar aferrado a algumas convicções que impedem a governabilidade do pais, ou seja um convite para revés eleitoral (alias, a popularidade do Tea Party nunca foi tão baixa).

O alerta destes líderes conservadores é para o partido resistir de forma inteligente aos democratas e fazer compromissos necessários para que não fique cristalizada a postura meramente obstrucionista. O partido deve fazer oposição às folias democratas e não contra a mera ideia de governo. Precisa ter uma visão mais positiva e inclusiva (de vários tipos de minorias). Precisa ter um pouco mais de jinga. Claro que não basta ter algumas caras étnicas (como Jindal, filho de indianos) ou políticos bilíngues (como Rubio, filho de cubanos). Precisa trocar algumas roupas ou fantasias.

Na expressão de Jindal, o Partido Republicano deve deixar de ser o “partido estúpido”, permitindo que setores mais refratários, intransingentes, bizarros ou conspiratórios fixem a agenda e prejudiquem sua viabilidade eleitoral, fazendo com que os democratas tenham munição para até ridicularizar os adversários.

O partido precisa decidir com que roupa vai para a avenida política. Melhor em algumas situações desfilar sem fantasia.

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