Obama and a Doctrine of Reluctance in Syria

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Obama e a doutrina da relutância na Síria

Antes tarde do que nunca? O governo Obama agora está disposto a fornecer assistência não letal, incluindo alimentos e suprimentos médicos, para o principal grupo de oposição política na Síria, a Coalizão da Oposição Síria, liderada por Mouaz al-Khatib, como parte do esforço para acelerar a remoção do ditador Bashar Assad do poder.

A decisão anunciada em Roma pelo novo secretário de Estado John Kerry de não fornecer armas decepcionou os rebeldes mais moderados, que padecem enquanto iranianos e russos ajudam o ditador-açougueiro e os jihadistas dão o tom na guerra civil.

Entre os jihadistas, estes grupos ligados à rede Al-Qaeda que se revelam os melhores combatentes entre os rebeldes e que acabam contando com a simpatia mesmo de setores moderados, frustrados com o vacilo ocidental. Em Roma, o líder da oposição Khatib disse que o mundo deveria se preocupar mais com a magnitude dos massacres praticados pelo regime Assad do que com o comprimento das barbas dos rebeldes. É verdade que países europeus, como na rebelião líbia, se mostram mais desenvoltos na Síria do que os americanos, Que encrenca.

Precisamos ser relutantes com a sabedoria do provérbio antes tarde do que nunca. Poderá ser muito tarde e nunca haverá a oportunidade para remediar o atraso. A relutância do governo Obama na crise síria pode se revelar letal, impedindo desfechos palatáveis para o Ocidente (ok, não podem ser descartados cenários ainda mais indigestos do que o status quo com Assad).

O fato é que o governo americano não é de guerra. O presidente Obama está em retirada bélica, antenado com a falta de apetite militar da população americana e a necessidade de uma dieta orçamentária. O aventureirismo da era Bush cede lugar para esta cautela. A questão é o custo final para os próprios interesses americanos.

O governo Obama trabalha na base de meia bomba. Quer o fim de Assad, mas não investe com vigor nas opções moderadas, com o medo de que as armas caiam nas mãos dos jihadistas. Enquanto isto, cresce a influência na Síria de aliados americanos com uma agenda inquietante, como é o caso do regime fundamentalista islâmico da Arábia Saudita.

O governo Obama teme o pior na encrenca caso se envolva, mas a coisa vai encrencando dia a dia pela falta de envolvimento. Além da carnificina, é o risco de partilha do país. Washington calcula que não pode botar para quebrar para não irritar demais os russos, dos quais depende para enrijecer o cerco em torno do Irã na crise nuclear, mas a relutância de Washington encoraja o regime de Teerã, que questiona a sua disposição de ir às últimas consequências caso seja fabricada a bomba.

Claro que a situação na Siria é perigosa, mas a aversão a risco também é. É possível ser mais vigoroso sem bancar o caubói irresponsável. E uma das propostas no ar é uma zona de exclusão aérea para impedir que os aviões de Assad sigam efetuando bombardeios de forma indiscriminada. Muito está em jogo na Síria em termos estratégicos e humanitários. Sinalizar tanta relutância pode até agravar a guerra civil.

O foco de Obama é doméstico, mas a Casa Branca não pode negligenciar suas obrigações de superpotência global. No ano passado, Obama vetou as propostas do seu alto comando militar e diplomático para o fornecimento de armas aos rebeldes sírios. A nova equipe, composta por Kerry e secretário de Defesa Chuck Hagel, está mais afinada com a relutância presidencial.

No horizonte estratégico, a meta é se livrar do açougueiro Assad, mas impedir que o açougue continue em funcionamento. Será preciso convencer minorias como os alauítas e os cristãos que o futuro não pertence aos jihadistas. Para tal, será essencial fortalecer as facções moderadas entre os rebeldes. É até possível que, com atraso, com relutância e forma gradativa ocorra um engajamento maior dos americanos, mas o preço será também maior, até atroz.

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