The Failures of US Policy

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O primeiro mandato de Obama foi uma agradável surpresa em termos de política externa. Apoiado por Hillary Clinton, deixámos de ver os Estados Unidos com a tendência intervencionista e monopolista que marcou os tempos de Bush. Mas parece que a orientação mudou. A primeira viagem oficial fora do país, do novo secretário de Estado, John Kerry, parece mostrar que a tradicional perspetiva americana do mundo está de volta.

Este périplo pela Europa e pelo Médio Oriente incluiu visitas ao Egito, à Arábia Saudita, ao Qatar, aos Emirados Árabes Unidos e à Turquia. Um dos encontros mais polémicos ocorreu no passado dia 3, no Cairo, com o Presidente Morsi, tendo John Kerry reiterado a “disponibilidade dos Estados Unidos para ajudarem economicamente o Egito”, apelando “à união de todos os egípcios para o país poder dar uma imagem de credibilidade aos investidores externos”. Vários líderes da oposição recusaram reunir-se com o novo secretário de Estado e na rua multiplicavam-se as manifestações e os confrontos com a polícia. Em vésperas de eleições parlamentares no Egito, quando o Observatório dos Direitos Humanos no Egito denuncia casos de censura à liberdade de imprensa, com perseguições e prisões de jornalistas, periódicos a serem encerrados todos os dias, com civis a enfrentarem julgamentos militares, atos contínuos de abuso das forças policiais, já para não falar da célebre Constituição que viola os direitos humanos e dos decretos que tornam o Presidente Morsi num faraó ressuscitado, põe-se a questão do porquê da atitude americana, quando há um ano se falava no apoio de Obama a um Egito democrático e livre do poder ditatorial, mas de Mubarak.

Este episódio faz lembrar os idos anos de 2005, quando a então secretária de Estado do presidente Bush, Condoleezza Rice, nas vésperas de mais umas eleições egípcias, discursando na Universidade Americana do Cairo, disse: “As eleições do Egito, incluindo as eleições parlamentares, devem cumprir as normas objetivas que definem cada eleição livre.” Recorde-se que nestas eleições parlamentares os candidatos da Irmandade Muçulmana conseguiram 88 lugares, mas foram impedidos de exercer o seu mandato, por múltiplas e inventadas razões, sem que tivesse havido uma recriminação americana.

Depois de uma mea culpa de Obama pelos anos de cumplicidade americana com Mubarak, custa a crer que os Estados Unidos, tão empenhados que estavam em trazer a democracia para o Egito, tenham voltado ao mesmo registo e agora apoiem o governo ditatorial de Morsi. As razões deste auxílio podem ser “explicadas”. Primeiro pelo peso político que os Irmãos Muçulmanos atualmente têm no Médio Oriente, depois porque são protegidos e financiados pelo Qatar, país onde está localizado o centro de comando das operações militares americanas no Médio Oriente, e por último são da mesma família política do partido do primeiro-ministro Erdogam, da Turquia, o único membro da NATO na região.

O futuro dirá se esta estratégica aliança com a Irmandade Muçulmana não irá sair cara aos americanos. Veja-se, por exemplo, o caso do Afeganistão. Os americanos treinaram e apoiaram os mujahedin na guerra afegã-soviética e depois deixaram que eles transformassem o país num Estado fundamentalista islâmico. Quando descobriram o erro, numa medida tão desesperada quanto ingénua, apoiaram financeiramente os talibãs para terminarem com o cultivo de ópio, mas estes não só utilizaram os dólares para comprar armamento, como continuaram a cultivar e a vender droga. Em 2001, invadiram o país para expulsarem de lá os talibãs e capturar Ben Laden. Doze anos depois, os talibãs continuam no Afeganistão, o antigo chefe da Al-Qaeda só foi morto em 2011, e Hamid Karzai já deu a entender, repetidamente, que o centro do terrorismo mundial está, ou melhor continua, no vizinho Paquistão.

Se é certo que Obama já não tem eleições para ganhar, custa a crer que se tenha voltado aos velhos tempos. Será que os americanos não aprendem?

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