Oy Vey! Between Obama, Netanyahu and Abbas

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A expressão em ídiche (língua dos meus avós) do título desta coluna reflete um estado de exasperação. E nada mais natural com esta primeira aparição de Barack Obama como presidente americano em Israel e no território palestino da Cisjordânia (a visita tem escala também na Jordânia). Obama, aliás, escolheu a região para sua primeira viagem internacional no segundo mandato.

Mas a Casa Branca faz questão de baixar as expectativas sobre o processo de paz entre judeus e palestinos. No primeiro mandato, Obama achou que podia. Fracassou na ilusão de que um acordo entre israelenses e palestinos dava para ser negociado rapidamente. Trombou de cara com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ao cobrar um congelamento dos assentamentos judaicos na Cisjordânia e nada arrancou do morno líder palestino Mahmoud Abbas. Não haverá reunião conjunta entre os três nesta viagem do presidente americano.

Exasperante alinhar os pontos de acusações mútuas, envolvendo inflexibilidade e má fé. Netanyahu não quer negociar em termos substantivos a criação de um estado palestino e nem pode, com a participação na sua novíssima coalizão de governo de setores ainda mais indispostos do que ele para a construção de um projeto viável na Cisjordânia. É um pessoal mais interessado em construir mais assentamentos judaicos no futuro estado palestino. E se Gaza, sob o controle de Hamas, entrar na conversa, tudo fica ainda mais exasperante. Portanto, dos lados palestinos, temos da ineficácia de Abbas ao Hamas, que sequer reconhece o direito à existencia do estado judeu.

Eu ainda acho que Abbas é o interlocutor viável para Israel. É com ele ou com ele. Dito isto, o homem não tem capital para negociar agora. Para Obama, sobrou esta missão de baixas expectativas, deixando claro que a única solução no horizonte envolve dois estados: um judeu e um palestino.

Os paràmetros são familiares: divisão territorial em torno das fronteiras anteriores à guerra de 1967, com ajuste e troca de terras permitindo que a maioria dos colonos judeus na Cisjordânia fiquem dentro de Israel, partilha de Jerusalém e o fim da fantasia palestina de que os refugiados tenham direito de retorno para Israel.

Falando em fantasia, é preciso conter uma perigosíssima em torno da ideia de apenas um estado, algo defendido por românticos que botam fé na convivência binacional e também por radicais dos dois lados que acreditam que uma terra santa é totalmente judaica ou é totalmente árabe. Por este maximalismo, os incomodados que se mudem, morram ou se submetam à opressão.

Não há espaço político e emocional hoje em dia para negociações ambiciosas. O processo de paz não existe. No momento, Obama e a comunidade internacional podem ao menos manter vivo o paradigma de dois estados. Quem precisa mais dele é Israel para preservar o caráter judaico e democrático do estado. A demografia é inimiga dos judeus. Ambos atributos (judaísmo e democracia) só podem prosperar em um estado com maioria judaica. Nada, portanto, de anexação ou ocupação permanente de terras do futuro estado palestino.

O paradigma dos dois estados é vital para Obama manter sua razão de ser como mediador americano e pelos interesses estratégicos dos EUA. Mas Netanyahu não quer muito papo sobre os palestinos (vive no seu estado de negação). Ele quer conversar sobre outro assunto crucial: a crise nuclear iraniana. Eu arremato com o tom exasperante de uma declaração de Aaron David Miller, um veterano negociador americano na região: “Será que Obama quer ser o presidente que estava no governo quando a chance de uma solução de dois estados desapareceu ou quando o Irã conseguiu armas nucleares ou nós fomos a guerra contra ele”?

Oy Vey!

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