Syria: Chemical Weapons and Poisonous Rhetoric

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A Síria das armas químicas e da retórica venenosa

Qual narrativa iraquiana poderá impelir o governo Obama a decidir o que fazer na Síria agora que ele reconheceu pela primeira vez (“com variados graus de confiança” de agências de inteligência) que o regime de Bashar Assad usou armas químicas na guerra civil? Tal uso significa que a ditadura de Damasco cruzou a linha vermelha. E como resultado, deve haver uma resposta. Assim falou Barack Obama… várias vezes.

Existem os fantasmas do Iraque de 2003, quando avaliações errôneas ou apimentadas sobre as armas de destruição em massa de Saddam Hussein levaram à invasão do país. Por este motivo e pelo fato da Síria ser um vespeiro, o governo Obama reluta, embora esta sua cautelosa avaliação sobre o uso de armas químicas intensifique as pressões para alguma atuação vigorosa. Afinal, o governo Obama fez a constatação na quinta-feira, um dia após ter levantado dúvidas sobre as alegações de Israel, Grã-Bretanha e França sobre este uso de armas químicas.

E existem os fantasmas do Iraque de 1988, quando Saddam Hussein usou armas químicas contra seu próprio povo (cidadãos curdos), matando pelo menos cinco mil pessoas na cidade de Halabja. Saddam pôde fazer isto, pois houvera cinismo e complacência dos países ocidentais quando o ditador iraquiano usou armas químicas na guerra contra o Irã, em grande parte fornecidas por companhias ocidentais. Não havia uma linha vermelha que impedisse o genocídio dos curdos.

É provável que agora Bashar Assad esteja usando pequenas quantidades de agentes químicos para testar a disposição ocidental (especialmente americana) e a capacidade de detecção de material químico. Assad lidera um regime-gângster, que age com brutalidade, sadismo e perseverança para sobreviver.

Na propaganda do regime, vítimas de armas químicas em Aleppo

A escalada de denúncias sobre seu uso de armas químicas esta semana aconteceu num momento curioso: de escalada de propaganda do regime sírio, que expressa uma confiança que o pior já passou na guerra civil. E de pensar que este regime inclusive acusa os rebeldes de usarem armas químicas. Onde conseguiram? Quem tem o arsenal é a ditadura, assim como seu arsenal de mentiras, como forjar imagens de vítimas de material químico usado pelos rebeldes na cidade de Aleppo (a bem da verdade, muitas acusações e evidências apresentadas pelos rebeldes também merecem uma dose de ceticismo).

E nos últimos dias, a ditadura abriu as portas para jornalistas estrangeiros (não mostrou a mesma generosidade para inspetores das Nações Unidas e grupos independentes de defesa dos direitos humanos). Na batalha de relações públicas, o regime-gângster quer convencer os países ocidentais que os bandidos estão do outro lado da guerra civil, ou seja, são os rebeldes controlados por extremistas jihadistas. Nesta narrativa, as autoridades governistas exageram a importância das brigadas internacionais do terrorismo islâmico.

Como eu disse, a Síria hoje é um vespeiro, A oposição está fragmentada e os melhores combatentes entre os rebeldes são os radicais. Náo é fácil, portanto, uma decisão sobre intervir militarmente (e Obama foge delas, como também acontece na crise nuclear iraniana). De novo, eu estive na legião de prematuros sobre o fim de Assad. Mas agora o conflito pode se arrastar (e os rebeldes, de fato, se radicalizarem) sem apoio externo aos setores moderados. Já são duas guerras civis na Síria (uma dos rebeldes x o regime e a segunda entre os rebeldes)

E não se trata de enviar tropas de combate, mas de ações como ataques aéreos contra os depósitos de armas químicas ou o uso de forças especiais para tomar posse deles, inclusive para que não caiam nas mãos de jihadistas ou da milícia libanesa Hezbollah, aliada de Assad. Outro cenário seria a criação de zonas de exclusão aérea para ajudar os rebeldes e proteger a população civil dos bombardeios governistas.

Hoje é este vespeiro, mas nunca podemos esquecer que os rebeldes radicalizaram devido à escalada de repressão de forças de segurança que há dois anos começaram a massacrar manifestantes em protestos pacíficos. Nunca esqueçam que nesta guerrra civil, o pecado original é de Bashar Assad, filho de outro ditador com um prontuário de décadas de atrocidades.

No entanto. o primeiro-ministro sírio Wael Nader al-Halqui disse aos jornalistas estrangeiros que seu país é “parceiro” do Ocidente no combate ao terrorismo (eu estou fora dessa). O ministro da Informação Omran al-Zoubi complementou que “esta é uma guerra pela civilização, identidade e cultura. A Síria é o último real estado laico no mundo árabe”. O ministro desinforma a ponto de negar a mera existência de armas  químicas no seu arsenal. Retórica venenosa.

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