As batalhas de Benghazi, de Khadafi a Hillary Clinton
Benghazi é uma cidade no leste da Líbia. É um emblema das tantas ramificações da Primavera Árabe, de leste a oeste. Benghazi foi berço da insurreição contra a ditadura de Muamar Khadafi. A perspectiva de um massacre em larga escala da população pelas forças de Khadafi foi o impulso e a justificativa para a intervenção ocidental na Líbia em 2011.
A ditadura caiu, mas a libertação da Líbia não trouxe apenas a esperança (precipitada) de um país melhor e com tanto potencial, mas também o poder de milícias islamistas, muitas delas operando a partir de Benghazi, um centro do fundamentalismo islâmico. Estas milícias fazem o que podem para impedir a consolidação de um novo estado líbio, na verdade se comportando como um paraestado.
Ramificações de Benghazi estão na Sïria, ainda sob o poder formal de um ditador jovem, Bashar Assad, mas da velha escola das autocracias árabes, como era o caso de Khadafi, que subiu ao poder na mesma época de Hafez Assad, pai do atual dirigente sírio. O regime de Damasco concretizou o que Khadafi não conseguiu em Benghazi. Várias cidades sírias foram vítimas de massacres em larga escala, que não puderam ser evitados, pois não houve a intervenção ocidental, como na Líbia.
Estas cidades sofreram duramente e duplamente. Foram massacradas pelo Exército e milícias a mando de Assad, mas muitas delas também são submetidas agora ao domínio de milícias islamistas, que estão entre as tropas mais aguerridas no conflito sírio. Em algumas partes do país, as mílicias a serviço de Assad impõem a limpeza étnica de sunitas; em outras, milícias islamistas impõem a lei sharia.
É neste cenário de guerras de milícias, que acontecem tantas ramificações da guerra civil síria, como intervenções estrangeiras em diferentes escalas (Irã, Hezbollah, Rússia, Israel, Turquia, países árabes e países ocidentais). Não era este o plano, especialmente do Ocidente, quando ocorreu a intervenção para salvar Benghazi de Khadafi em 2011. Não se esperava que entre as ramificações da Primavera Árabe estivessem possibilidades de uma guerra regional ou tanto espaço para a rede Al Qaeda, que parecia ter sido atropelada na fase inicial das insurreições na África do Norte e Oriente Médio.
A rede original Al Qaeda foi bastante enfraquecida pelas ações do governo Obama (a destacar operações com aviões não tripulados e de forças especiais, como aquela que matou Osama Bin Laden no Paquistão há pouco mais de dois anos). Na narrativa político-eleitoral de Obama, o fim de Osama se tornou uma grande cartada. Mas a rede Al Qaeda, mais do que uma organização, se disseminou como uma inspiração em países do Oriente Médio e África do Norte. Ademais, a Primavera Árabe abriu espaço para a atuação de forças jihadistas, na Líbia e em outros países.
A batalha de Benghazi, em Washington
E justamente nos meses finais da campanha eleitoral de 2012 (e ainda por cima no dia 11 de setembro) ocorreu o ataque contra a missão diplomática (e anexo da CIA) dos EUA em Benghazi, quando Obama apregoava seu sucesso na luta contra o terror e Hillary Clinton era secretária de Estado. As ramifícações desta Benghazi estão agora aí com toda intensidade na guerra da política interna americana, com as investigações movidas pelos republicanos no Congresso, sendo que a Casa Branca e os democratas estão na defensiva.
O embaixador americano Christopher Stevens e mais três americanos morreram em 11 de setembro de 2012, quando ocorreu a invasão da missão diplomática em Benghazi. Não há questões agora sobre a segurança inadequada na missão diplomática e que o ataque foi perpretado por jihadistas. Alguns republicanos, em ritmo de CPI permanente, acusam a Casa Branca de acobertamento e gritam Watergate, pedindo o impeachment do presidente Obama. Por que não extrapolar as ramificações? As alegações republicanas são de que o governo demorou para assumir que fora um ataque terrorista (e não um protesto espontâneo) e que fez o que pôde para ocultar isto da opinião pública para conquistar dividendos políticos e eleitorais.
A credibilidade do governo Obama está manchada. De fato, ele fez o que pôde para minimizar Benghazi na campanha eleitoral de 2012. Mas a politização da tragédia também ocorre do lado republicano. Tudo é feito para maximizar esta tragédia, já de olho na campanha eleitoral de 2016, e manchar a imagem de Hillary Clinton, que poderá ser a candidata democrata.
Benghazi e suas ramificações cada vez mais intrincadas, de primavera a primavera.
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