Obama, Forward, IV (Oh Watergate!)

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Obama, adiante, IV (Oh, Watergate!)

A coluna de quarta-feira mais uma da série Obama, adiante, cuidou do clichê da maldição do segundo mandato. Com os escândalos no governo americano, prosperou o inevitável clichê “pior que Watergate”. Este, aliás, foi título do livro de John Dean em 2004 para denunciar o escandaloso governo de George W. Bush.

John Dean, caiu a ficha? Ele era o conselheiro (legal) do presidente Richard Nixon, foi conspirador no caso Watergate e, em troca de cooperação com a promotoria, teve a pena de prisão reduzida a quatro meses. Dean segue condenado à autoflagelação.

Existe condenação generalizada pelo abuso do clichê “pior que Watergate”. Lou Cannon, jornalista e biógrafo de Ronald Reagan, tinha uma regra quando cobria a Casa Branca para oWashington Post (o jornal dos repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein). Ele desligava o telefone quando uma pessoa anônima garantia ter revelações que fariam Watergate parecer um piquenique.

Obviamente, ainda não sabemos se as controvérsias que assolam Barack Obama serão um piquenique ou não. Mas é importante não se distrair com as hipérboles. O constante uso do clichê “pior que Wategate” pode tirar o significado da analogia. Quando alguém brada Watergate desde o começo de uma controvérsia com o potencial de virar a história ou incriminar um governo, tudo o que acontece depois, ao longo de investigações, pode até parecer menos espetacular.

A obra de Nixon

Antes de analogias precipitadas, portanto, não custa saber o essencial de Watergate, a mãe de todos os “gates”. Há milhares de livros sobre o assunto. Artigos, então, nem se fala. Mas vamos cortar o caminho da garganta profunda, com o que Woodward e Bernstein (os dois jovens repórteres do “furo” e que devassaram o escândalo) escreveram no Washington Post em 2012, quando dos 40 anos (17 de junho de 1972) da invasão da sede do Partido Democrata, no edifício Watergate, em Washington. Título do artigo:”40 anos depois de Watergate, Nixon era pior que nós pensávamos”. Entres os pontos:

1) Nixon aprovou pessoalmente o plano autorizando a CIA, o FBI e a inteligência militar a intensificar a vigilância eletrônica de pessoas identificadas como “ameaças à segurança doméstica”.

2)A unidade de “encanadores” envolvida na invasão da sede do Partido Democrata tinha um prontuário criminoso. Entre suas ações, a invasão do escritório do analista Daniel Elsberg, que vazara os Papeis do Pentágono, sobre a guerra do Vietnã, para o New York Times. O antissemita Nixon instruiu o assessor Bob Haldeman para que “não deixasse o judeu roubar o material e se safar”. Ademais, o assessor de segurança nacional de Nixon, o judeu Henry Kisisinger, exigiu que o FBI espionasse 17 jornalistas e assessores na Casa Branca sem aprovação judicial.

3) O ministro da Justiça, John Mitchell, aprovou um plano criminoso de US$ 250 mil para que houvesse espionagem e sabotagem dos candidatos democratas na eleição de 1972, usando grampos e arrombamentos, com a participação de 50 pessoas.

4) Nixon aprovou e dirigiu a conspiração criminosa para tentar acobertar o seu próprio papel nos escândalos rotulados com a expressão Watergate.

Bob Woodward (que continuou muito importante como jornalista, ao contrário de Carl Bernstein) é recrutado de forma incessante por estes dias para falar sobre o que está acontecendo com o governo Obama, em casos como a intimidação de grupos conservadores pela Receita Federal (o que foi feito por Nixon e outros presidentes em relação a seus adversários), a resposta ao ataque terrorista na missão diplomática americana em Benghazi e o cerceamento de repórteres e funcionários governamentais que vazam informações. Woodward criou seu próprio clichê: nada disso ainda é da escala Watergate, mas existe algo nixoniano em Obama.

Nixolândia

Carl Cannon, o filho de Lou, editor do obrigatório site RealClearPolitics, também vê componentes nixonianos em Obama: na autocomiseração, no maniqueísmo e no desprezo pelo papel investigativo e imparcial da mídia. Cannon reconhece que até agora não há evidências conectando Obama ou qualquer um sob seu comando a atividades ilícitas, mas a ausência de criminalidade não é o único teste, para ele.

No escândalo do fisco, Cannon repete que não existem as evidências de que Obama soltou a burocracia contra os oponentes, como Nixon fez, mas aí ele pergunta: após anos comparando os republicanos no Congresso a terroristas e caracterizando o Tea Party como racista e extremista, qual era a mensagem transmitida pelo presidente? Na expressão de Cannon, isto também é “nixolândia”. Ok, posso até aceitar a ideia de venalidade política, mas ainda não estamos no território da criminalidade.

Outra herança de Watergate é o clichê que o acobertamento é pior do que o crime. Nestes termos, evidentemente será explosivo caso se revele que alguém do círculo mais íntimo de poder na Casa Branca sabia antes das eleições de 6 de novembro passado (reeleição de Obama) que havia a intimidação de grupos conservadores pelo fisco

Um memorável clichê das audiências no Senado sobre Watergate, foi a pergunta do senador Howard Baker: “O que o presidente sabia e quando ele soube”? Até lá…….

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