Who Are You, America?

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Chamam-lhe heartland, o coração da América. Aqui, no Dacota do Sul, ninguém perde um segundo com Obama, o Congresso, a Síria ou a crise da Zona Euro. O território é tão extenso que se consome a si mesmo: toda a política é local, toda a história é estadual, toda a segurança é individual. Este bastião republicano, com culto por armas que nem permite discussão e devoção repartida entre o rodeo e o todo-poderoso, podia ser replicado culturalmente a uma extensa zona central norte-americana, dando conta ao mundo de que os EUA não se definem pelas progressistas regiões costeiras. A polarização política que aqui se vive também é refletida na heterogeneidade geográfica, na multiplicidade cultural e na diversidade social. Haverá, então, uma só cultura americana? Não. Cada estado é portador de autonomia fundacional na história dos EUA que o autoriza a prosseguir a herança. Os mais expostos às grandes vagas de industrialização e imigração tendem a ser mais heterogéneos e a expor uma cultura mais urbana e menos patrioteira. Os que preservaram os elementos tradicionais em detrimento da aculturação externa tendem a ser reservados na relação com o resto do país e a solidificar estes fundamentos. É o heartland que define culturalmente esta maioria territorial norte-americana: na família, na bandeira e no ódio a Washington. Na família cabem o núcleo tradicional e a vizinhança, com a posse de arma a servir, em primeiro lugar, para defesa deste círculo na ausência da força policial. A bandeira dá sentido coletivo e orgulho extremado por fazer parte da história de um país visto por muitos como “abençoado”. O ódio a Washington tem partilha genética um pouco por todo o lado: o poder federal está lá longe, vive da intriga palaciana, é autoconsumível e, por isso, descartável. Vive-se bem sem ele: porque se DC não fala com o resto da América, a América não quer saber de DC. À atenção dos políticos em Bruxelas.

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