Brazil and the US

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Brasil & EUA

Eu confesso que não tenho nada muito inteligente para dizer a respeito das denúncias de que os EUA espionam o Brasil. Somos parte do banco de dados vazados por Edward Snowden, o ex-técnico da CIA e da Agência Nacional de Segurança dos EUA (NSA, na sigla em inglês). Mas preciso mostrar serviço e falar a respeito, assim como o governo brasileiro faz a sua parte, expressando “grave preocupação” e prometendo investigações. É a tal coisa em espionagem: chato ser espionado (Brasil), chato ser desmascarado (EUA).

Meu colega Ricardo Setti dá uma geral bem ilustrativa sobre a importância do Brasil. Para mim, sobra uma piadinha: seria um insulto se o Brasil não fosse espionado pelos EUA ou pelo Uruguai, devido à sua importância estratégica, econômica e política. Existe também aquele detalhe de geoterrorismo: a fronteira com o Paraguai e a Argentina, a já lendária Tríplice Fronteira.

Glenn Greenwald, o jornalista-ativista que tem divulgado os dados vazados por Snowden, oferece também uma explicação técnica. Ele disse em entrevista ao Fantástico, na TV Globo, que a espionagem de brasileiros pode ser uma alternativa dos EUA para conseguir ter acesso aos sistemas de países mais protegidos como a China e o Irã.

Nas palavras de Greenwald: “Não temos acesso ao sistema da China, mas temos acesso ao sistema para o Brasil. Então estamos coletando o trânsito do Brasil não porque queremos saber o que um brasileiro está falando para outro brasileiro, mas porque queremos saber que alguém na China está falando com alguém na Irã, por exemplo”.

Para arrematar, uma ilustrativa história francesa. O venerável jornal Le Monde revelou na semana passada detalhes sobre o aparato de coleta de dados, monitoramento e espionagem da França, que usa métodos similares aos da Agência Nacional de Segurança dos EUA, que foram devassados por Snowden. Quando o pirata que trabalhava para Washington revelou que os americanos espionavam os europeus, houve indignação continental, mas o protesto francês foi frouxo.

Como disse Le Monde, “por duas excelentes razões: Paris já sabia e estava fazendo a mesma coisa”. Na expressão do jornal parisiense, “Ce Big Brother français, petit frère des services américains, est clandestin”.

Não preciso traduzir. Todos fazem isto. C’est la vie.

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