Look There, Caio; See What's Happening, Reader

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Olhe aí, Caio, veja lá, leitor

As imagens das vítimas do gás, apresentadas pelo deputado Kinzinger

A doutora Anne Sumers, minha oculista, olha as coisas de um ângulo liberal. Democrata, ela até tentou a política em Washington, mas foi derrotada pelo deputado federal republicano em nosso distrito no estado de Nova Jersey. Bom para mim. Mantenho minha oculista e nossos papos. Síria foi conversa inevitável. Literalmente olho no olho, ela me perguntou se eu era a favor de um ataque na Síria. Metaforicamente, eu baixei os olhos e disse que sim. Sabia que seria censurado pela doutora Anne Sumers.

Minha oculista ecoa a relutância de tantos setores liberais sobre engajamento no exterior. Acha que é hora de retraimento e de botar o foco na reforma da casa (aqui, os liberais democratas estão irmanados de forma desajeitada com a corrente isolacionista do Partido Republicano, concentrada no Tea Party).

Não é à toa que minha oculista expressa a visão de maciça maioria da opinião pública contra a autorização pelo Congresso a uma operação militar para punir Bashar Assad por seu uso de armas químicas. Este é um país avesso ao engajamento, cansado de guerra. São os fantasmas do Iraque,  Afeganistão e os dilemas sobre quem apoiar na Primavera  Árabe, especialmente agora na tragédia síria. Como lembra o editorial da edição corrente da revista The Economist, há ceticismo sobre as conclusões da inteligência e o propósito de uma intervenção. E eu acrescento: existe uma crise de credibilidade das instituições. Olhe a cara de Barack Obama.

Mas, eu rebato que a inação irá agravar esta crise de credibilidade, dar mais espaço a genocidas como Bashar Assad e ampliar a confiança de campeões da não intervenção e das convicções autoritárias, como Rússia e China. Nada disso elimina as incertezas estratégicas de engajamento e o risco de que seja um poço sem fundo, mais um atoleiro. Sem mergulhar em um atoleiro analítico, não custa lembrar que um pouco de força brutal é necessário para conduzir o brutal regime de Assad para algum tipo de negociação.

Mas ainda não chegamos lá. Falta firmeza em Barack Obama para, como dispara a Economist, adotar decisões duras e impopulares. Ele foi ao Congresso em busca de apoio, pois a situação é realmente de amargar, mas o presidente também quer dividir as responsabilidade, embora seja o comandante-em-chefe. Ao mesmo tempo, existe a opacidade de Obama, com distintos planos sendo vazados sobre os propósitos e o alcance de uma operação militar.

Tudo embaçado, mas sei que a população olha as coisas como a doutora Anne Sumers (com o olho esquerdo ou o direito), mas vou apresentar os dilemas do deputado democrata pela California Alan Lowenthal. Calouro no Congresso (eleito em 2012), ele está na maior aflição sobre como votar a respeito da autorização (e o voto de liberais como ele vai decidir a parada para Obama). Lowenthal diz que não existem boas respostas na Síria. Existe um dilema moral sobre o uso de armas químicas, que é simplesmente terrivel, por um ditador. Por outro lado há as consequências sobre envolvimento.

Como minha oculista (que perdeu a parada eleitoral), o democrata liberal Lowenthal tem uma resistência natural à guerra, mas ele quer segurar a barra do democrata na Casa Branca. E em entrevista ao National Journal, Lowenthal diz que de 653 mensagens que recebeu de eleitores no seu distrito, apenas 11 eram favoráveis ao ataque na Síria.

E como eu, Lowenthal é  judeu. Ele pesa o que é melhor para a segurança de Israel (2/3 dos israelenses nas pesquisas se dizem favoráveis ao ataque). Lowenthal, porém, está em dúvida se um mero lançamento de mísseis na Siria aumenta ou diminui a ameaçaa que seu aliado, o Irã, representa para Israel. E se for uma operação mais ampla? Mais incógnitas. Como judeu, Lowenthal é especialmente sensível às imagens horríveis de pessoas inocentes que foram vítimas de gás. Sabemos o que se passa do outro lado. Já vimos outras imagens horríveis das barbaridades cometidas por rebeldes (e olhe que nem são os  terroristas da Al Qaeda). Vimos a foto estampada na capa de quinta-feira do New York Times da execução de soldados governamentais.

Mas o foco hoje é o gás, as vítimas de Bashar Assad. Como qual autoridades moral podemos olhar estas imagens e calcular que a inação é a melhor atitude? Outro deputado calouro, o republicano Adam Kinzinger, de Illinois, veterano das guerras do Afeganistão e Iraque, favoravel à autorização para a operação militar na Síria, fez um chamado à ação, durante o debate no Comitê de Relações Exteriores da Câmara. Ele pediu aos colegas, num lance teatral, que olhassem as imagens das vítimas de Bashar Assad, perguntando como era possível ficar paralisado diante da tragédia.

Olho no olho, minha oculista e a imensa maioria dos americanos respondem que é possível.

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