Os heterónimos da América
por BERNARDO PIRES DE LIMA06 março 201434 comentários
Podemos resumir em três as escolas de análise sobre a ação dos EUA na crise ucraniana. A primeira enfatiza a fraqueza crónica desta administração para lidar com grandes questões de segurança internacional, tomando em conta a inconsistência da estratégia no Afeganistão, as “linhas vermelhas” na Síria, e a falta de resposta à investida russa na Crimeia. Muitos veem a passividade de Obama como um regresso a Jimmy Carter, prostrado a olhar Brejnev invadir o Afeganistão. A segunda defende a sensatez de Obama num roteiro de médio-prazo, obrigando Putin a expor de uma assentada todas as cartas em que o seu regime se funda. Ou seja, ao “permitir” as ações previsíveis de Moscovo, isola Putin num cordão de consenso internacional sem precedentes. Dessa forma, pode ameaçar com sanções coordenadas com a UE para atingir a oligarquia de negócios do Kremlin, instigar a mais protestos na Rússia, privá-la de integrar o G8 e aderir à OCDE, acelerar alternativas à política energética europeia, e recuperar alguma da coordenação euroatlântica manchada pelo caso das escutas. A terceira reconhece a perda de influência de Washington na política europeia, a predisposição de Obama em não confrontar as grandes potências e a necessidade de trabalhar de perto com Moscovo em três questões mais prioritárias para Obama: travar o nuclear no Irão, controlar Assad e o extremismo na região, retirar sem incidentes do Afeganistão. Todas têm argumentos válidos e a sua mistura pode ajudar a explicar melhor a política externa de Obama. Mas será que é aceite e percebida pelos americanos? Um perfil de comandante-em-chefe inconsistente terá impacto nas eleições de novembro para o Congresso? Em cima da confusão do Obamacare e da desilusão com a prometida mudança política e financeira, qualquer argumento serve para encurralar Obama. Parece paradoxal, mas Putin pode ser o aliado que os Republicanos precisavam.
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