The Man Who Leads from Behind Facing the World

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O homem que lidera de trás de frente para o mundo

Três horas antes do décimo-terceiro aniversário dos atentados do 11 de setembro, em que os EUA foram atacados pelo jihadismo ensandecido da rede Al-Qaeda, o presidente Barack Obama fez discurso solene na quarta-feira à noite sobre seus planos para enfraquecer e, por fim, destruir o Estado Islâmico, outra onda de jihadistas ensandecidos que com seus métodos fazem a rede Al-Qaeda parece um grupo de escoteiros. Foi um bom discurso para um presidente que há duas semanas confessou que ainda não tinha uma estratégia para lidar com o Estado Islâmico.

Na quarta-feira, de frente aos americanos e ao mundo estava Obama, o presidente que lidera de trás. Pelo menos era assim que ele gostaria de ser. Mas, não, ele não pode, (no, he can’t!). Era a ilusão do desengajamento, apesar da exaustão das guerras do Afeganistão e do Iraque, que resultaram dos atentados do 11 de setembro.

No caso do Iraque, foi fruto de uma má leitura, uma leitura fajuta do governo Bush, uma leitura ignorante de que as coisas poderiam ser mudadas a toque de caixa no Oriente Médio e a mudança foi para pior com o fortalecimento do Irã dos aiatolás e da mutação do terror sunita para algo ainda mais horrendo na forma do Estado Islâmico, que migrou do Iraque para a Síria e agora criou o monstrengo chamado Siraque.

Na sua excessiva cautela, Obama se revelava até agora um mau leitor das oscilações do estado de espírito dos americanos. Ele é um mau líder. Na frase de Robert Kagan, Obama entregou aos americanos a política externa que eles queriam e os americanos não gostaram. O Estado Islâmico, ironicamente, se mostra um melhor leitor do espírito americano.

Os artíficies da barbárie entregaram as cabeças decapitadas de dois jornalistas americanos e liberaram os americanos do seu torpor, de sua mentalidade de avestruz. As bestas do Estado Islâmico, como a rede Al Qaeda, querem atrair os americanos e demais ocidentais para o seu terreno. Deliram com a ideia do seu califado combatendo os cruzados infiéis (e eventualmente cometendo algumas barbáries no terreno dos inféis, Europa e EUA).

Tropas americanas no Iraque em 2007

O jogo é selvagem e ardiloso. Obama, depois do seu torpor, promete uma reação mais esperta do que a de Bush, nada de estilo da guerra iraquiana. Nada de tropas de combate, com a promessa de arregimentar aliados árabes para o trabalho pesado. E sem ilusões. Alguém vai precisar despachar tropas e forças especiais americanas serão cada vez mais necessárias no solo, tanto no Iraque, como na Síria, teatro de operacões e de barbárie do Estado Islâmico. Não será fácil obviamente diante das rivalidades entre estes aliados e a desconfiança dos americanos no Oriente Médio. No trabalho pesado, para valer, os americanos parecem por ora contar com os tradicionais aliados curdos.

Existem reclamações sobre o papel diminuto dos EUA na região e um clamor por liderança. No entanto, os americanos sempre perdem. Frustram quando mandam a cavalaria (ou os aviões não tripulados) e frustram quando vacilam. Na avaliação de uma boa antena no mundo árabe, o libanês Rami Khouri, a combinação de militarismo ocidental (mesmo quando cauteloso) e ações de regimes autocráticos pró-Ocidente alimenta o terror.

No entanto, Rami Khouri antecipa as coisas. Obama, o homem que lidera de trás, chega atrasado e atrapalhado. Há um ano, ele quase lançou ações militares contra a ditadura de Bashar Assad por seu uso de armas químicas contra civis na guerra civil síria. A barbárie de Assad não comoveu a opinião pública americana e o Congresso disfuncional. Agora sim. Existe comoção com a decapitação de dois jornalistas americanos pelos jihadistas.

No entanto, o jogo é selvagem e ardiloso. Não dá para atacar o Estado Islâmico na Síria e, ao mesmo tempo, dar colher de chá para Assad. Eventualmente serão realizados bombardeios aéreos contra o Estado Islâmico na Síria. Mas, para o meu alívio, no discurso de quarta-feira, o presidente se distanciou do carniceiro Assad, que, como o Estado Islâmico, aterroriza a população civil. Obama quer agora, com três anos de atraso, ajudar o que sobrou de rebeldes de confiança na guerra civil síria.

Na fria avaliação de Richard Haass, do Council on Foreign Relations, este é o calcanhar de Aquiles da estratégia. Como contar com estes rebeldes de confiança a esta altura do campeonato?  Ao mesmo tempo, ele espera que aliados como Arábia Saudita e Turquia deixem de ajudar os jihadistas de sua preferência que não são afinados com o Estado Islâmico. Sintomático que horas antes do discurso solene, Obama tenha telefonado para o rei Abdullah, da Arábia Saudita, país campeão do fundamentalismo islâmico. E em uma base saudita, “rebeldes” sírios moderados serão treinados. Doutrina da quadratura do círculo.

É muita sutileza para a cabeça dos eleitores americanos (e provavelmente para muitos dos meus leitores). Os americanos querem providências contra os decapitadores. A contragosto, Obama é arrastado para uma encrenca sem fim. Ele achou que teria a ganhar caindo fora dos atoleiros do Oriente Médio. E, de fato, Obama ganhou duas eleições, entre outras coisas, com a promessa de desengajamento do Iraque e Afeganistão.

O jogo, porém, mudou e 2/3 dos americanos desaprovam a política externa de Obama. Por uma pesquisa Wall Street Journal/NBC News, 58% dos eleitores confiam mais nos republicanos para lidar com os desafios de segurança nacional e defesa. Apenas 16% nos democratas. No entanto, este novo ardor ativista dos impacientes americanos pode se evaporar rapidamente caso a expansão das ações de Obama no Oriente Médio não apresente resultados relativamente rápidos ou as coisas derrapem (algo que costuma acontecer rapidamente na região).

Aleppo, 2013, um dos maiores cenários de destruição na Síria

Neste cenário político e com um vácuo de liderança no Oriente Médio (na hora do maior sufoco, há o clamor pelos americanos), não dá mais para Obama liderar de trás. Tampouco adianta choramingar. Meu guru Jeffrey Goldberg, fã de Obama, observa que caos e colapso no Oriente Médio não podem ser somente ou até mesmo em muitas situações em grande parte atribuídos às estratégias, aos discursos e às ideias mal concebidas ou equivocadas de presidentes americanos. No entanto, existe o fardo de superpotência e Obama neste final de mandato vai precisar carregá-lo.

E Goldberg tem mais uma observação: a presidência de Obama será julgada um fracasso no âmbito de segurança nacional se a Al-Qaeda, o Estado Islâmico e outros grupos jihadistas ainda forem capazes de manterem santuários no Oriente Médio e adjacências quando ele deixar a Casa Branca em janeiro de 2017 e tambem se o Irã continuar rumo ao limiar para fabricar a bomba atômica.

No  caso específico desta expansão do combate ao terror islâmico no Siraque (Siria + Iraque), o desafio é ir adiante sem dar oxigênio a aliados dos iranianos como a ditadura de Bashar Assad e esquemas xiitas no Iraque. De trás ou de frente, a missão de Barack Obama é penosa.

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