O petróleo de xisto e os preços
Filomeno Manaças | 2 de Novembro, 2014
Apesar das advertências feitas pelas organizações ecologistas sobre os possíveis danos ao ambiente que a sua exploração pode causar, os Estados Unidos lançaram-se na produção em massa de petróleo e gás de xisto para satisfazer as suas necessidades energéticas e, desse modo, reduzirem a dependência das importações para abastecer o seu próprio mercado.
Tal qual a “febre do ouro” no século XIX, a corrida ao petróleo e gás de xisto intensificou-se de modo particular nos últimos quatro anos. Mais de 60 companhias privadas norte-americanas investiram em tecnologia e projectos para a exploração das reservas identificadas, não se importando com os riscos ambientais e não levando muito em conta os elevados custos que o processo de produção requer. Com efeito, especialistas consideram que a produção de petróleo de xisto é um processo muito dispendioso e que exige também muita energia. Fica muito mais barata a extracção de petróleo pelo processo convencional no Médio Oriente e este (custo de produção) é um dos factores em discussão nos Estados Unidos, mas não o motivo suficiente para levar as empresas engajadas a desistirem. No que a preservação do ambiente diz respeito, o processo empregue para a extracção de petróleo de xisto suscitou em vários países, ao ponto de movimentos ecologistas em França, Bulgária, Irlanda, Irlanda do Norte (e alguns estados norte-americanos) terem conseguido a proibição por lei do uso do método. A produção de gás e petróleo de xisto é feita através do método designado fracturação hidráulica, ou fracking, que consiste em injectar sob alta pressão, num poço com mais de mil metros de profundidade, água misturada com vários produtos químicos. Este processo leva o xisto betuminoso, uma rocha sedimentar de textura fina, a transformar-se num composto químico orgânico líquido, a partir do qual podem ser obtidos hidrocarbonetos. Em quatro anos de intensa actividade o resultado foi o anúncio feito pelo “Bank of America”, em Julho, de que os Estados Unidos tinham ultrapassado a Arábia Saudita e a Rússia para se tornarem no maior produtor mundial de petróleo, com uma cifra diária de 11 milhões de barris no primeiro trimestre deste ano. Os preços do petróleo no mercado petrolífero já tinham começado a depreciar-se em Junho, descendo dos 115 dólares para a faixa dos 85 dólares por barril, ou seja, uma quebra de 30 dólares por barril em pouco menos de dois meses. Como não podia deixar de ser, em função disso vários países exportadores tiveram de rever em baixa o seu Orçamento Geral do Estado, pois passaram a contar com menos receitas para fazer face às despesas programadas, uma vez que, para muitos, essa nova realidade introduziu um défice orçamental não previsto. Países fortemente dependentes das receitas de exportação de petróleo e gás tiveram de proceder a ajustamentos para fazer face aos novos desafios, representado por um lado pelo início de produção em massa de petróleo e gás de xisto nos Estados Unidos e, como consequência disso, um aumento da oferta do produto no mercado e uma quebra na procura. Essa situação projecta para o mercado petrolífero um futuro de incertezas, o que levou o Executivo angolano a intensificar, de há um tempo a esta parte, a aposta na diversificação da economia. Maior exportador de petróleo no mundo e membro mais influente da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), a Arábia Saudita, com uma reserva monetária estimada em 700 mil milhões de dólares, é vista como estando numa posição mais cómoda em relação aos demais. Mas não é isso, como é óbvio, que está em causa. A grande questão, e é isso que a OPEP segue com atenção, está em saber como vai, doravante, o mercado comportar-se. Ou seja, os especialistas estão particularmente focados na novel indústria de petróleo e gás de xisto norte-americana e acompanham para ver até que ponto, face aos gastos altamente dispendiosos do processo – a actividade envolve uma fórmula contendo mais de 600 componentes químicos -, o projecto tem sustentabilidade garantida. Estima-se que o barril de petróleo de xisto esteja a custar entre 60 a 80 dólares (preço de equilíbrio) nos Estados Unidos, contra 20 dólares para a produção de um barril de petróleo no Iraque, por exemplo. Ainda é cedo para dizer se “a revolução do xisto” já vingou. Ao cepticismo com que é encarada a produção de petróleo e gás de xisto, face a uma série de desvantagens, entre as quais avulta o elevado custo que comporta, os mais optimistas apontam o retorno a longo prazo dos investimentos. Mas a muito longo prazo mesmo.j
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