Guantanamo Is an Appeal to Brazil

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Paulo Vannuchi: Guantánamo e um apelo ao Brasil

A tão sonhada notícia sobre reatamento de relações entre Estados Unidos e Cuba merece, da parte do Brasil, apoio e incentivo. Afinal de contas, abriu-se uma luminosa porta para avançar na direção da paz, um dos objetivos centrais de quem luta pelos direitos humanos.

Um primeiro gesto nesse sentido poderia –e deveria– ser o anúncio de que o Brasil também aceita receber um grupo de prisioneiros de Guantánamo, que as autoridades norte-americanas buscam alocar em nações amigas que decidam recebê-los por razões humanitárias.

Se concretizar esse anúncio, o Brasil estará se inspirando em mais um bom exemplo desse querido irmão chamado Uruguai, liderado pelo presidente José “Pepe” Mujica.

Nossa diplomacia sempre reitera o interesse em manter com os Estados Unidos excelentes níveis de cooperação e intercâmbio econômico, político e cultural. É raro surgir uma oportunidade tão clara para manifestar sintonia com o esforço do presidente Barack Obama, ajudando-o no cumprimento de sua promessa de fechar a Base de Guantánamo.

Aos cautelosos assessores presidenciais ou ministeriais do Brasil, que pularão de suas cadeiras para tentar barrar o que sempre chamam de agenda negativa, cabe lembrar que a presidenta Dilma Rousseff acabou de vencer uma difícil eleição onde enfrentou no segundo turno um adversário que pregou a redução da maioridade penal.

Dilma não se rendeu, como não se renderia à defesa da pena de morte, igualmente majoritária nas pesquisas, assim como Mujica não se curva à manifestação contrária de segmentos uruguaios que condenam seu gesto de estadista.

Vale lembrar também, em diálogo sincero com quem ainda alimenta os dragões e fantasmas da Guerra Fria, que é zero a chance de os militares norte-americanos libertarem presos sobre os quais pairasse a menor suspeita de envolvimento com organizações terroristas.

Os seis jovens foram acolhidos em liberdade pelo Uruguai, depois de outros três recebidos pela Geórgia, dois pela Eslováquia, um pelo Kuwait e outro pela Arábia Saudita, todos pertencentes à esfera de influência diplomática dos EUA.

Os recebidos por Mujica estiveram presos por nove anos e sobreviveram ao tipo de tratamento dispensado a todos os que caíram nas prisões secretas de George W. Bush.

Uma ideia aproximada sobre esse tratamento pode ser obtida com a leitura do volumoso relatório da comissão do Senado norte-americano que investigou, durante cinco anos, nada menos que seis milhões de documentos da CIA, que ninguém sabe se realmente entregou tudo o que está guardado em seus cofres e criptografias.

Se o Brasil atender a esse apelo e tomar a decisão corajosa, apoiando o Uruguai, é possível prever que outros vizinhos seguirão a mesma trilha. Até que sejam acolhidos os 136 ainda restantes nessa masmorra instalada como verdadeiro enclave em território que pertence a Cuba.

Em nosso país, é certo que os jovens libertados de Guantánamo, alguns na faixa dos 20 anos, serão acolhidos por um povo que sempre abriu seus braços para imigrantes.

Não terão maiores dificuldades para iniciar vida nova, conseguindo emprego, retomando estudos, constituindo família e gerando filhos brasileiros, apoiados por uma vasta comunidade árabe e/ou muçulmana que é respeitada por sua índole trabalhadora e pacífica.

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