Of Course, the Dictator Assad No Longer Persona Non Grata

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Foi fácil encontrar razões para o derrube de Bachar al Assad: o regime matava opositores, apoiava-se numa minoria religiosa e tinha-se transformado numa monarquia disfarçada de república. Passados quatro anos sobre o início da revolta, os Estados Unidos admitem que é preciso falar com o líder sírio. De ditador Assad a presidente Assad, caso as palavras de John Kerry confirmem uma mudança de estratégia americana. O que mudou desde março de 2011? A ascensão do Estado Islâmico, a capacidade de sobrevivência de Assad e, diga-se, a desilusão com a Primavera Árabe.

Kerry admitiu dialogar com os sírios numa entrevista à CBS no Egito. Ora, aqui está um país que viu o seu ditador, Hosni Mubarak, ser derrubado e preso, para depois eleger um presidente, derrubá-lo, e voltar a pôr no poder um general, ainda que sem farda. Pior estão dois outros países que também aproveitaram os ventos da Primavera Árabe , essa Líbia que depois da morte de Muammar Kadhafi vive em clima de guerra civil e esse Iémen que, negociada a saída de Ali Saleh, se manteve assolado por rebeliões.

Exceção só a Tunísia, que foi pioneira em livrar-se do ditador, um Ben Ali hoje exilado na Arábia Saudita. Mas o pequeno país do Magrebe sempre se mostrou o mais preparado para ser uma democracia, mais não fosse pela tradição laica, pela emancipação feminina e até pelo desenvolvimento económico.

Voltando a Assad, no poder desde 2000, este desiludiu quando falhou as promessas de abertura, mas também é verdade que, apoiado pelos alauitas, pelos cristãos e drusos e pela elite sunita de Damasco e Aleppo, parecia ter o país controlado. E era bastante frequentável, como mostra a foto de um jantar em Damasco em 2009 com Kerry, então senador.

De um momento para o outro foi abandonado pelo Ocidente, mas sobretudo pelas monarquias do Golfo e Turquia, que se transformaram nos financiadores dos rebeldes, alguns, caso da Frente al-Nusra, óbvias extensões da Al-Qaeda.

Para resistir, Assad só pôde contar com a Rússia, que o protegeu na ONU, e com o Irão. Até que desde o ano passado, o susto causado pelo Estado Islâmico levou os Estados Unidos a atacar as bases jihadistas tanto na Síria como no Iraque. Com comunicação prévia de voos aos sírios. E mesmo controlando só parte do território, passou a ser evidente que imaginar a Síria sem Assad é utopia, não um cenário de trabalho.

No seu último livro, Henry Kissinger fala do eterno dilema dos Estados Unidos entre seguir os seus ideais ou fazer realpolitik. Quando derrubou Saddam Hussein, em 2003, Bush filho não percebeu que estava a criar o caos no Iraque. O idealista Barack Obama, que aposta em Kerry para deixar legado no Médio Oriente (do dossier israelo-árabe ao nuclear iraniano), talvez tenha entendido que a realidade é dura.

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