Republicans Undermine Trust in the United States

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Domingo, horas antes de em Lausanne se reunirem os responsáveis pelas políticas externas do Irão e das seis potências envolvidas – Alemanha, China, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Rússia, para conseguirem um acordo que parecia alcançável sobre a dimensão do programa nuclear iraniano, um grupo de 47 senadores republicanos lançou a confusão, endereçando ao Presidente iraniano, HassanRouhani, uma carta aberta ameaçando torpedear qualquer concordância que viesse a ser conseguida.

Os senadores subscreveram a ideia de Tom Cotton, um neófito no Capitólio, eleito pelo Arkansas, ameaçando publicar legislação que obrigaria a que o acordo fosse ratificado pelo Congresso e retirasse ao Presidente os poderes de levantar as sanções impostas ao Irão. Frank Walter Steinmeier, ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, não se conteve, desabafando segundo as agências: “as negociações já são suficientemente difíceis, não temos necessidade de mais complicações”. Do lado iraniano, a primeira reacção foi de desconfiança na credibilidade norte-americana. John Kerry, secretário de Estado, teve de intervir, solicitando um pouco mais de bom senso, que parece faltar aos republicanos. Oficialmente, o Vice-Presidente Joe Biden e o Departamento de Estado consideraram a iniciativa “prejudicial à segurança americana”.

Os tiros nos pés dados no Capitólio em matéria de política externa não são novidade, mas desta vez os 47 senadores, onde se incluem uns poucos democratas também, ultrapassaram a marca habitual, tornando legítimo que os próprios aliados norte-americanos se interroguem se as verdades de hoje no Congresso são as de amanhã ou se os princípios de política externa e os tratados assinados por um Presidente dos Estados Unidos são válidos durante o seu mandato ou se, como se espera em Direito Internacional, passam a integrar o edifício da política externa norte-americana.

O ódio a Barack Obama parece substituir, irracionalmente, a discordância política que se possa ter relativamente ao Presidente. Já era visível nas redes sociais e agora passou a integrar a posição republicana, sobretudo se tivermos em atenção que o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Bob Corker, não se demarcou desta carta, bem pelo contrário. É legítimo admitir que o que hoje está a suceder com o Irão pode amanhã suceder com qualquer outro país, amigo ou não, dos EUA.

O acordo que domingo começou a ser negociado é suficientemente complexo, procura limitar a capacidade nuclear do Irão, manter o seu programa nuclear sob intenso escrutínio, definir uma parafernália de questões técnicas (que são posteriormente afinadas) e, em paralelo, estabelecer um calendário que faça corresponder a cada etapa desse processo uma fase de levantamento de sanções impostas tanto pelos EUA como pela União Europeia.

Se as conversações não derem qualquer resultado até final de Março e a responsabilidade seja imputável à falta de confiança provocada pela iniciativa dos 47, ninguém pode garantir que as conversações não caiam num impasse prolongado. Sobretudo, se se verificar a hipótese de em Israel Benjamim Netanyahu ganhar as eleições desta semana, hipótese muito pouco provável, mas não impossível. O actual Primeiro-Ministroisraelitaincendiou a semana passada o Congresso, numa sessão boicotada pela maioria dos democratas e condenada por muitas associações judaicas norte-americanas. A convite dos republicanos, Netanyahu visitou os EUA em plena campanha eleitoral israelita, com finalidades meramente eleitorais. Criticado em casa pelo péssimo desempenho da economia e as dificuldades financeiras em Israel o Primeiro-Ministro cessante jogou a cartada da segurança, diabolizando o Irão como ameaça à paz e estabilidade. Os republicanos compraram.

Como as conversações deste teor têm de se basear em princípios de confiança, a carta dos 47 e o apoio republicano a Netanyahu podem levar o Irão a pretender debater primeiro as garantias da não reversibilidade do acordo ao sabor do poder no Capitólio e só depois disso aceitar entrar na matéria em debate. Acresce que nada garante que, em caso de fracasso, os europeus encabeçados pela Alemanha e França não pretendam levantar, progressivamente, um embargo que os prejudica também ou se mostrem de futuro reticentes em apoiar Washington em novas sanções, seja contra o Irão ou qualquer outro.

Concomitantemente, Teerão mostrou-se até agora um elemento essencial no combate ao auto-proclamado “Estado Islâmico” que procura estender a sua área de acção.

No domingo, foi revelado que a sua actividade de recrutamento está a ser detectada nos Estados Unidos.

Um acordo com o Irão desagrada a Israel, à Arábia Saudita e seus aliados do Golfo, mas a verdade é que, sem relações comerciais e sem diálogo, não é possível ter qualquer influência na política de outro país e, goste-se ou não, as “primaveras árabes” vieram mostrar mudanças no Irão do Presidente Hassan Rouhani.

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