Obama Better than Bush, Even Without Speaking Español

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George W. Bush tinha tudo para triunfar na sua política para a América Latina. Criado no Texas, gostava tanto de botas à cowboy que chegou a ser fotografado com o presidente mexicano a comparar quem calçava as mais artísticas. Confiante também no espanhol aprendido talvez com a cunhada Columba, atreveu-se a ir ao rancho de Vicente Fox em San Cristóbal falar de imigração. Afinal, como dizia a imprensa, eram “two amigos”. Mas, ironia, será Barack Obama, filho de um queniano e de uma branca do Kansas, nascido no Havai e educado na Indonésia, a ficar como o presidente que reconciliou o país com os vizinhos abaixo do Rio Grande.

Percebe-se que Obama está decidido a fazer diplomacia neste final de segundo mandato. Por isso o acordo sobre o nuclear iraniano, por isso também a pressa em normalizar as relações com Cuba. Mas se as negociações com os ayatollahs trazem riscos, aquilo já conseguido com Havana só colhe aplausos. É que enquanto o Irão continua uma ameaça aos planos de Washington para o Médio Oriente, Cuba já não é o peão de Moscovo no pátio americano, muito menos o fornecedor das tropas que ajudavam o bloco soviético e afins a impor-se em África.

Entre o aperto de mão a Raúl Castro no funeral de Nelson Mandela e este agora na cimeira das Américas passaram 15 meses. E se o da África do Sul foi inesperado, e fez sonhar, o do Panamá era previsível e arrisca saber a pouco: tardará Obama a retirar Cuba da lista de países que apoiam o terrorismo? Foram seis décadas de costas voltadas, duelo que começou com Dwight Eisenhower e Fidel Castro, é natural que seja grande a vontade de ultrapassar a fase da retórica.

Ao contrário de outras zonas do mundo (como o Iraque que o texano Bush invadiu), a popularidade dos Estados Unidos permanece alta na América Latina, segundo o instituto Pew, com mais de 60% de opiniões positivas em vários países, incluindo a Venezuela.

Aliás, Obama consegue aliar à normalização com Cuba uma perda de brilho da revolução bolivariana, cada vez menos modelo por culpa da morte de Hugo Chávez e da baixa do petróleo, e ver destacar-se a Colômbia, aliado sempre seguro. E beneficia ainda das debilidades de Dilma Rousseff, que travam as ambições brasileiras de se impor como o outro gigante das Américas.

Por este caminho, somando os êxitos na política externa com a decisão de regularizar cinco milhões de imigrantes, Obama, mesmo sem falar espanhol, pode legar ao candidato democrata (Hillary Clinton?) uns 80% de voto hispânico nas presidenciais de 2016, mais do que os 71% de 2012. Mesmo que do outro lado esteja Jeb Bush, o marido da señorita Columba.

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