Desde que veio de trás para vencer a eleição para senador na Flórida em 2010, Marco Rubio estampa o rótulo de Obama republicano. Com a formalização de sua candidatura nas primárias presidenciais republicanas na segunda-feira, ele quer investir no que considera a boa parte do rótulo: o político jovem, de origem humilde, filho de imigrantes cubanos que derrota as expectativas e os favoritos dinásticos. O salto para a Casa Branca em uma geração é a prova da grandeza do American Dream.
No caso de Obama, do outro lado, nas primárias democratas em 2008, estava a rainha Hillary Clinton. No caso de Rubio, antes, no meio do caminho, está o príncipe Jeb Bush, que também está para oficializar a candidatura. Ironicamente, antes da eleição em 2010, Bush, ex-governador da Flórida, incentivou seu afilhado político a apressar o passo e concorrer ao Senado. Agora, existe esta trama shakesperiana do filho que trai o pai ao assumir suas ambições ao trono.
Marco Rubio quer entrar para a história como o primeiro latino na Casa Branca, triunfando nas eleições de novembro de 2016. Ao contrário de Mitt Romney em 2012 e Jeb Bush agora, ele é um dos favoritos do Tea Party e acabou contendo o necessário pragmatismo em nome da pureza ideológica do movimento ultraconservador, se distanciando de apoio a uma reforma da imigração, que abre um caminho para 11 milhões de ilegais formalizarem seu status no país. Ganha assim alguma força nas primárias, mas perde o seu appeal como um candidato republicano capaz de seduzir o crescente eleitorado de origem latina ou meramente ajustado a um quadro de diversidade étnica nos EUA.
Rubio espera compensar sua guinada em imigração com as mensagens que têm polido sobre a necessidade de politicas socioeconômicas que reduzam as desigualdades de renda no país (mais através de oportunidades do que de distributivismo). Sem dúvida, ele tem mais carisma do que Romney e ainda por cima é desprovido da grife de plutocrata.
Ao contrário do candidato Rand Paul, mas como Ted Cruz, o outro filho de cubano igualmente queridinho do Tea Party, Rubio assume uma posição de falcão em politica externa. Como era de se esperar, ele dispara de forma incessante contra o acordo sobre o programa nuclear iraniano e a reaproximação entre EUA e Cuba, embora 2/3 dos americanos sejam a favor da iniciativa, assim como o eleitorado mais jovem de origem cubana na Flórida.
Para mim, é difícil ver Marco Rubio com muita chance na corrida das primárias republicanas. No entanto, reconheço que seus atributos, como carisma, juventude e capacidade de atuar fora da bolha demográfica do partido (apesar do recuo em imigração) podem contar pontos, além de sua capacidade de ultrapasssar competidores, vindo lá de trás. Outro ponto positivo é sua disposição para manter pontes abertas para o establishment republicano, ao contrário dos irascíveis Rand Paul e Ted Cruz. E, apesar de conservador de carteirinha impulsionado pela Tea Party, ele sabe que na política de Washington é preciso costurar compromissos. Seus desafios imediatos são ganhar reconhecimento nacional e correr com habilidade entre as várias facções republicanas na maratona das primárias.
Charles Krauthammer, um guru conservador que eu respeito bastante, tem o prognóstico de que Marco Rubio, 43 anos, pode ser o azarão no páreo republicano, um excelente contraste à sexagenária rainha Hillary Clinton. Uma recente pesquisa Wall Street Journal/NBC News revelou que 56% de prováveis eleitores nas primárias republicanas considerariam votar em Rubio, o melhor desempenho na multidão de pretendentes. Krauthammer nem faz o paralelo com Obama. Diz que Marco Rubio tem o vigor e a energia de um John Kennedy, aquele jovem senador e príncipe plutocrata dos democratas que venceu as eleições em 1960 quando tinha 43 anos.
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