Os caras
O elogio de Obama a Lula era uma brincadeira simpática, mas com um certo tom de inveja. Ninguém, na época, salvo talvez a Michelle, chamaria Baraca de ‘o cara’
O mundo dá muitas voltas. Acabei de criar esta frase, podem me citar. Quando os dois se encontraram pela primeira vez não me lembro onde, o Barack Obama apontou para o então presidente Lula e disse “Esse é o cara”. O cara presidia um dos poucos países que davam certo, na época. A crise generalizada no mundo parecia não ter chegado ao Brasil, onde os índices econômicos, maquiados ou não, eram positivos, havia pouco desemprego, e acontecia o milagre de um governo voltado para o social convivendo sem maiores melindres com um patriciado conservador. Lula estava em alta. Em contraste, o Baraca estava em baixa. A oposição dos republicanos ameaçava paralisar seu governo, seus planos de reforma social não saíam do chão, sua política externa hesitante não agradava nem pombas nem falcões. Seu elogio ao Lula era uma brincadeira simpática, mas com um certo tom de inveja. Ninguém, na época, salvo talvez a Michelle, chamaria Baraca de “o cara”.
Corta para a visita da Dilma aos Estados Unidos, nesta semana. O mundo deu as suas voltas e tudo mudou. Hoje o cara indiscutível é o Baraca. Sua política de recuperação econômica, apesar de ele não contar com maiorias no Congresso, está dando resultados. O maior legado da sua administração, um plano nacional de saúde que tira os Estados Unidos da incômoda posição de única nação rica da Terra a não ter um programa de cobertura universal, foi aprovado pela Corte Suprema, depois de combatido, chamado de “socialista” e “antiamericano” e demonizado pela direita. A decisão a favor do “Obamacare”, apelido do seu plano de saúde, foi apenas uma das surpreendentes boas notícias que o Baraca recebeu do supremo tribunal americano, reconhecidamente conservador. A liberação do casamento homossexual em todo o país foi outra. Nos Estados Unidos estão comparando os juízes supremos a velhos sisudos que, de uma hora para outra, decidiram arrancar as togas e mostrar suas bermudas coloridas.
Não sei se o Baraca perguntou à Dilma como ia “o cara”. Talvez tenha ido mais longe e perguntado que fim levou aquele Brasil que Lula representava. E os dois podem ter conversado sobre os efeitos do tempo até nas melhores intenções. E não seria de estranhar se Dilma se queixasse que o primeiro mandato do Lula tinha sido um sonho, do qual o Brasil acordara justamente no seu governo. E os dois concordassem que, realmente, o mundo dá voltas demais.
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