Learning from the Mistakes of the US

Published in El Pais
(Brazil) on 31 October 2015
by Maria Laura Canineu and Cesar Munoz Acebes (link to originallink to original)
Translated from by Fernanda Townrow. Edited by Graeme Stewart-Wilson.
A Light for Brazilian Dungeons

The weekend, the United States is going to set free about 6,000 prisoners serving federal sentences for nonviolent drug offenses; it’s the largest release of prisoners in North American history. This move is a sign of the huge changes taking place in the country that has the highest number of incarcerated people in the world. Politicians from both parties, and even police chiefs, agree today that mass incarceration doesn’t enhance public security.

This is a movement Brazil should follow closely.

Brazil has the questionable reputation of being the country that is home to the fourth largest incarcerated population in the world. While the number of prisoners in the three countries occupying the top of this ranking has decreased since 2008, Brazil has gone in the opposite direction. The number of prisoners in the country has increased almost seven times in the last 25 years, today reaching more than 600,000 who are kept in facilities big enough for 377,000.

This explosive growth has led the prison system to collapse, turning the focus of prisons into violence, illness, corruption, and a place of serious human rights violations.

As well as some Brazilian politicians, many of their North American counterparts have spent decades defending harsher punishment as a solution to criminality. However, studies since 1958 have shown that locking up low-risk offenders with prisoners who have longer sentences is equivalent to sending newcomers to crime school. Their life options after prison are severely limited; their likelihood of recidivism is higher, and it is then difficult to break the cycle.

The release of these 6,000 prisoners is the consequence of new rules on punishment adopted last year by a high-level judiciary committee, which also suggested that the rules should be applied retroactively. Many more of the 100,000 people serving sentences in U.S. federal prisons for drug crimes may be released earlier over the next few years.

There is still a lot to be done in building a more worthy and effective justice system in the United States, where powerful forces are still opposed to the change.

Yet, through careful examination of the results of decades of criminal policies based on overly severe punishment — sometimes established because of political motivations – the U.S. will now save millions of dollars, improve how justice works, and return tens of thousands of citizens to society, without any indication that this will harm public security. The states of New Jersey, California and New York have already reduced their prisoner populations by about 25 percent in the last few years, without seeing an increase in criminality.

It is understandable that we Brazilians want to feel safe. Only last year, 58,000 people were murdered in the country — an increase of almost 4 percent over the previous year, which was already marked by enormous violence. However, the mass incarceration of people is unfair; it leads inevitably to human rights violations, and it is also counterproductive. It is not even killers who fill the prisons: Brazilian police solve only between five and eight percent of homicides, meaning that the risk of being arrested doesn’t stop criminality.

Some Brazilian politicians defend the privatization of prisons as a solution to the prison system crisis. This measure, however, would not solve the central problem of excessive and increasing incarceration. Instead, privatization adds “profit” to the mix, which could make changes even more difficult.

The North American solution has been to shorten long sentences for nonviolent crimes. Brazil sees other opportunities. More than 40 percent of Brazilian inmates are provisional prisoners. In clear violation of international standards, some of them wait up to two years to see a judge for the first time — and most are detained with convicted prisoners, including violent criminals.

Also in violation of international rights and Brazilian law, thousands of inmates who have already served their time are still in prison because of faults in the judicial system, including the shortage of public attorneys. Since 2008, judges who took part in the National Council of Justice have already released at least 45,000 people held in prison illegally.

A comprehensive plan to ensure an agile justice system for all prisoners would make a huge difference in reducing the prison population and improve conditions in the dangerous, overpopulated and unsanitary dungeons that are the prisons in this country. It would also be an important step toward ending crime schools and for Brazil to respect its obligations to human rights.


Aprendendo com os erros dos Estados Unidos

Os EUA colocarão em liberdade cerca de 6.000 presos que vêm cumprindo penas por crimes não-violentos relacionados a drogas. O Brasil deveria acompanhar esse movimento de perto

Uma luz para as masmorras brasileiras

Os Estados Unidos colocarão em liberdade, neste fim-de-semana, cerca de 6.000 presos que vêm cumprindo penas, de caráter federal, por crimes não-violentos relacionados a drogas, a maior libertação de presos em massa da história norte-americana. A medida é um sinal da enorme mudança que vem ocorrendo no país que mantém o maior número de pessoas presas do mundo. Políticos de ambos os partidos e até delegados de polícia hoje concordam que o encarceramento em massa não aumenta a segurança pública.

Este é um movimento que o Brasil deveria acompanhar de perto.

O Brasil detém a questionável reputação de ser o país que abriga a quarta maior população carcerária do mundo. Enquanto o número de pessoas presas tem diminuído desde 2008 nos três países que ocupam o topo desse ranking, o Brasil segue na direção contrária. O número de presos no país aumentou quase 7 vezes nos últimos 25 anos, alcançando mais de 600 mil pessoas, que são mantidas em instalações com vagas para 377.000.

Esse crescimento explosivo levou o sistema prisional à beira do colapso, tornando as cadeias focos de violência, doenças e corrupção e de graves violações dos direitos humanos.

Assim como alguns políticos brasileiros, muitos de seus pares norte-americanos passaram décadas defendendo punições mais severas como solução para a criminalidade. No entanto, estudos realizados desde 1958 têm mostrado que trancafiar infratores de baixo risco juntamente com condenados a penas mais longas equivale a enviar novatos à escola do crime. Suas opções de vida após a prisão ficam severamente limitadas, a reincidência no crime elevada, e o ciclo torna-se difícil de ser quebrado.

A libertação desses 6.000 presos é consequência de novas regras sobre a punição adotadas no ano passado por uma comissão de alto nível do Judiciário, que também sugeriu que elas fossem aplicadas retroativamente. Muitas outras das cerca de 100.000 pessoas que cumprem penas em prisões federais dos EUA por crimes relacionados a drogas poderão ser libertadas mais cedo ao longo dos próximos anos.

Ainda há muito por fazer na construção de um sistema de justiça mais digno e eficaz nos EUA, onde forças poderosas ainda se opõem à mudança.

Ainda assim, por meio de um exame cuidadoso dos resultados de décadas de políticas criminais baseadas em punições excessivamente severas – as vezes elaboradas por motivação política – os EUA vão agora economizar milhões de dólares, melhorar o funcionamento da justiça e devolver dezenas de milhares de cidadãos à sociedade, sem nenhuma indicação de que isso causará prejuízos à segurança pública. Os estados de Nova Jérsei, Califórnia e Nova Iorque já reduziram suas populações carcerárias em cerca de 25% nos últimos anos, sem verificar aumento na criminalidade.

É compreensível que nós brasileiros queiramos nos sentir mais seguros. Apenas no ano passado, 58.000 pessoas foram assassinadas no país – um aumento de quase 4% em relação ao ano anterior, que já foi marcado por enorme violência. No entanto, o encarceramento em massa de pessoas é injusto, levando, inevitavelmente, a violações dos direitos humanos e é contraproducente. E não são os assassinos que lotam as cadeias: a polícia brasileira esclarece apenas entre 5 e 8% de todos os homicídios, de modo que o risco de ser preso não serve para desencorajar a criminalidade.

Alguns políticos brasileiros defendem a privatização das prisões como solução para a crise do sistema penitenciário. Essa medida, no entanto, nada faria para solucionar o problema central: o encarceramento excessivo e crescente. Em vez disso, a privatização adiciona o componente “lucro” à mistura, o que pode tornar as reformas ainda mais difíceis.

A solução norte-americana tem sido encurtar as longas penas para crimes não-violentos. O Brasil vislumbra outras oportunidades. Mais de 40%dos detentos brasileiros são presos provisórios. Em flagrante violação dos padrões internacionais, alguns esperam até 2 anos para ver um juiz pela primeira vez – e a maioria é encarcerada juntamente com presos condenados, incluindo criminosos violentos.

Também em violação do direito internacional e a lei brasileira, milhares de detentos que já completaram suas penas permanecem atrás das grades por conta de falhas no sistema judicial, incluindo a escassez de defensores públicos. Desde 2008, juízes que participaram em mutirões do Conselho Nacional de Justiça já determinaram a libertação de pelo menos 45.000 pessoas mantidas presas de forma ilegal.

Um plano abrangente para garantir uma justiça ágil a todos os presos faria uma enorme diferença para reduzir a população carcerária e melhorar as condições nas perigosas, superlotadas e insalubres masmorras que são as prisões do país. Seria também um importante passo rumo ao fim das escolas do crime, e para que o Brasil respeite suas obrigações com os direitos humanos.
This post appeared on the front page as a direct link to the original article with the above link .

Hot this week

Taiwan: Making America Great Again and Taiwan’s Crucial Choice

Israel: Trump’s National Security Adviser Forgot To Leave Personal Agenda at Home and Fell

Afghanistan: The Trump Problem

Russia: Political Analyst Reveals the Real Reason behind US Tariffs*

Topics

Israel: Trump’s National Security Adviser Forgot To Leave Personal Agenda at Home and Fell

Afghanistan: The Trump Problem

Taiwan: Making America Great Again and Taiwan’s Crucial Choice

Russia: Political Analyst Reveals the Real Reason behind US Tariffs*

Poland: Meloni in the White House. Has Trump Forgotten Poland?*

Germany: US Companies in Tariff Crisis: Planning Impossible, Price Increases Necessary

Japan: US Administration Losing Credibility 3 Months into Policy of Threats

Related Articles

Austria: ‘Houdini’ Trump Escapes Again

Brazil: Americans Freely Voted Against Democracy

Brazil : US Media Fails in Its Coverage of the Election*

Brazil: With Trump’s Vice President, America’s ‘New Right’ Could Reach the White House