O último debate das eleições nos Estados Unidos foi o melhor do ano entre Hillary Clinton e Donald Trump. Hillary, como de costume, demonstrou conhecimento exemplar sobre todos os assuntos e conseguiu evitar os ataques de Trump e as perguntas incisivas do moderador Chris Wallace. De novidade, foram as frequentes alfinetadas que perturbaram e distraíram o candidato republicano e a emoção por trás da resposta sobre os reiterados ataques de Trump contra mulheres.
De outro lado, Trump demonstrou autocontrole e disciplina durante o princípio do debate. Todavia, o debate representou um microcosmo de sua campanha e ele logo se perdeu – elogiando Vladimir Putin e chamando Hillary de nojenta. Se sua missão – reverter a tendência de quedas nas pesquisas – já era difícil antes do debate, agora parece impossível.
Prova disso é que o mapa do colégio eleitoral se mostra cada vez menos amistoso para sua campanha. Enquanto estados usualmente competitivos, como Virginia e Colorado, se solidificam na coluna de Hillary, ele é obrigado a gastar tempo e recursos para defender estados que não votam em um candidato democrata há décadas, como Arizona, Utah e Alaska. Até o Texas, berço do conservadorismo e da família Bush, tem se mostrado competitivo nas últimas pesquisas. O caminho de Trump para alcançar 270 votos se tornou uma miragem, se não utópico.
E o empresário parece reconhecer isso. É por isso que, nas últimas semanas, parece mais estar fazendo uma audição do que concorrendo à Presidência. Os últimos anos deixaram claro que existe um mercado, especialmente do lado republicano, para celebridades políticas. Ex-candidatos, como Sarah Palin, que aproveitam a fama e o grupo de apoiadores que conquistam ao longo de campanhas para fazer fortunas e permanecer sob o holofote da mídia. Escrevem livros, fazem palestras e apresentam programas de televisão e rádio. Regurgitam os mesmos discursos e, principalmente, ataques contra o establishment. Como líderes messiânicos, contribuem, ainda mais, para a radicalização.
Donald Trump tem potencial para se estabelecer como a maior celebridade política pós-eleição dos tempos modernos. Depois de anos apresentando O Aprendiz, seria uma transição fácil para o empresário, que não precisa do dinheiro, mas parece dependente dos holofotes. De sua plataforma, com os milhões de apoiadores fiéis conquistados ao longo do último ano, terá um megafone para falar, ou melhor, gritar contra tudo que for feito em Washington nos próximos anos, inclusive contra os líderes de seu próprio partido.
E ao longo da reta final da campanha, Trump já está testando suas principais frases de efeito. Por que outra razão se recusar a admitir que aceitará os resultados das urnas? Talvez uma tremenda incapacidade de admitir a derrota. Mas considere que, tivesse ele admitido, ninguém lembraria e este teria sido, potencialmente, seu melhor debate. Ao já antecipar uma recusa e colocar em dúvida o processo eleitoral, Trump prenuncia que o argumento de que lhe roubaram as eleições será repetido incessantemente depois de 8 de novembro.
Se o candidato republicano se movimenta para garantir seu espaço no pós-eleições, líderes republicanos também abandonaram as pretensões de recuperar a Casa Branca e estão focados em proteger suas maiorias no Senado e na Câmara. No Senado, a preocupação é que a derrota de Donald Trump seja tal, que candidatos como a Senadora Kelly Ayotte, em New Hampshire, e o Senador Pat Toomey, na Pennsylvania, sejam arrasados e, com eles, a tênue maioria republicana. Isso porque, cada vez menos, eleitores votam em um partido para presidente e em outro para outros cargos.
Já na Câmara, democratas precisariam de um terremoto eleitoral para ganhar as 30 cadeiras que necessitam para recuperar a maioria naquela Casa. Isso é improvável, já que na última rodada de redesenho dos distritos congressionais, em 2010, republicanos controlaram esse processo na maioria dos estados e se precaveram. O que deve acontecer é a derrota de alguns republicanos moderados, entregando ainda mais poder à ala radical do partido. Parece que o inferno astral do Speaker Paul Ryan só vai piorar.
Não há dúvidas de que Hillary saiu vitoriosa desse debate, assim como o fez nos últimos dois. A questão é que a democrata precisa de uma vitória ressonante, para levar consigo o maior número possível de deputados e senadores democratas para DC. E também para minimizar e ridicularizar qualquer reivindicação de fraude eleitoral que Donald Trump venha a fazer. Outra recontagem na Florida, como em 2000, seria desastrosa no cenário atual. Pensando bem, quem precisa de uma vitória maiúscula da candidata democrata é a democracia norte-americana.
Leave a Reply
You must be logged in to post a comment.