Desde o ano passado, o número de países, entre os 36 pesquisados, que tinham uma imagem mais positiva dos Estados Unidos do que da China caiu de 25 para 12
Uma recente pesquisa do Pew Research Center mostra que a imagem dos Estados Unidos se deteriorou nos últimos tempos em países que tradicionalmente têm uma visão favorável dos norte-americanos, ao mesmo tempo que a imagem da China melhorou bastante nesses países. O centro de pesquisa já havia mensurado o prejuízo que o errático governo do presidente Donald Trump está causando ao prestígio dos Estados Unidos no resto do mundo, mas a novidade agora é que os chineses vêm ocupando o espaço deixado pelas extravagâncias do norte-americano e começam a ser vistos como líderes globais.
Desde o ano passado, o número de países, entre os 36 pesquisados, que tinham uma imagem mais positiva dos Estados Unidos do que da China caiu de 25 para 12. Na média, a liderança dos Estados Unidos em relação à China, que chegou a ser de 12 pontos porcentuais, hoje está em 2 pontos.
A pesquisa mostra que a China mantém boa imagem na América Latina e no Oriente Médio, regiões em que é comum o sentimento antiamericano, enquanto os Estados Unidos vão bem na Europa e na região da Ásia-Pacífico. Contudo, países que quase sempre se alinham aos norte-americanos, como Austrália, Holanda e Canadá, hoje têm uma visão mais favorável à China do que aos Estados Unidos. E em países nos quais o prestígio dos Estados Unidos costumava ser muito superior ao da China – casos de Brasil, Grã-Bretanha, Alemanha e França –, o Pew detectou empate.
Um dos aspectos mais significativos da deterioração da imagem dos Estados Unidos é a percepção de que o país hoje, sob Trump, não tem conseguido ser o grande líder global que sempre foi desde pelo menos a 2.ª Guerra Mundial. Países como Alemanha e Chile, por exemplo, já manifestam mais confiança na liderança do presidente chinês, Xi Jinping, do que na de Trump.
Pudera. Enquanto Trump vocifera contra acordos internacionais, defende o protecionismo comercial e joga o mundo numa era de incertezas em razão de seu estouvamento, Xi discursa frequentemente em defesa da globalização e da liberalização comercial. É claro que o presidente chinês não se converteu ao liberalismo, e só prega essa parte do evangelho capitalista na medida das necessidades de seu país. No entanto, essa disposição de Xi, quando comparada ao colapso político e moral do governo de Trump, tem sido suficiente para fazê-lo parecer um campeão da causa liberal.
Esse é o pano de fundo da reivindicação chinesa ao status de superpotência, que depois da guerra fria, com o fim da União Soviética, só é aplicado aos Estados Unidos. Essa ambição ficou clara quando o presidente Xi disse, no recente Congresso do Partido Comunista Chinês, que a China está entrando numa “nova era” e se tornando uma “força poderosa”, um “modelo” de desenvolvimento econômico e político para o resto do mundo. Nas palavras de seu confiante governante, o país pretende “deslocar-se para o centro do palco e dar grandes contribuições para a humanidade”. Xi chegou a dizer que está inaugurando a era do “sonho chinês” – uma óbvia alusão ao “sonho americano”, que está na essência dos ideais que os Estados Unidos construíram para si e espalharam para o resto do mundo.
É evidente que, a despeito da grandiloquência do líder chinês, a pretensão da China ganha ares de fato consumado não em razão do inegável desenvolvimento do país, mas principalmente como consequência do enfraquecimento da liderança global norte-americana graças ao desastre chamado Trump. Pode-se dizer, portanto, que essa situação é momentânea – durará o tempo exato da recuperação dos Estados Unidos depois que Trump deixar o poder.
Até lá, porém, os Estados Unidos terão de conviver com seu desprestígio crescente, não apenas em relação à China, mas também, pasme o leitor, em relação à Rússia. A pesquisa do Pew mostra que a imagem positiva dos Estados Unidos na comparação com a da Rússia caiu mais de 20 pontos porcentuais. Quando se perde reputação até para uma autocracia corrupta como a Rússia, percebe-se o tamanho do estrago causado por Trump.
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