É bem provável que o dia de ontem venha a ficar na história dos Estados Unidos como aquele em que foi dado o primeiro passo verdadeiramente relevante para afastar Donald Trump da Casa Branca. Ontem ficámos a saber que Michael Flynn, ex-conselheiro de segurança nacional do Presidente Trump, assinou um acordo com Robert Mueller, o ex-diretor do FBI encarregue de investigar eventuais interferências da Rússia na eleição presidencial de novembro do ano passado.
O que nos diz esse acordo? Que Michael Flynn admite ter mentido ao FBI acerca de contactos com o embaixador russo em Washington para discutir sanções impostas pelos Estados Unidos a Moscovo. De todos os crimes de que Flynn poderia ser acusado, este é o mais inócuo e penalmente menos pesado, o que parece indicar que o antigo conselheiro do presidente tem muito a testemunhar sobre as ligações entre Trump e Putin. Aliás, a declaração escrita que Flynn publicou ontem é reveladora: “Reconheço que as ações que confessei hoje em tribunal foram erradas e, através da minha fé em Deus, estou a trabalhar para reparar os danos.” Ou seja, o homem vai falar, vai contar tudo o que sabe. Aliás, a meio da tarde a ABC já dizia que Flynn tinha revelado a Mueller que todos os contactos que manteve com autoridades russas, durante e depois da campanha presidencial, teriam acontecido por ordem de Donald Trump.
Há aqui uma primeira mudança fundamental. Sabemos agora que o presidente é um dos alvos da investigação de Robert Mueller, algo que a Casa Branca continua a negar. Este é apenas um primeiro passo. Todo o processo levará meses e o mais provável é que, mesmo com outros avanços significativos na investigação, o Partido Republicano permaneça leal a Donald Trump. As eleições intercalares de 6 novembro de 2018, onde estarão em jogo todos os 435 assentos da Câmara dos Representantes e 33 dos 100 lugares no Senado, são o potencial momento de viragem, assim se altere o equilíbrio no Congresso.
Se e quando Donald Trump for apeado da presidência, a América arrisca-se a saltar de um pesadelo para outro. Se há algo a que o presidente se tem dedicado desde a posse, para lá do golfe, é a alimentar a sua base de apoio com ódio e teorias da conspiração. Quem o elegeu há pouco mais de um ano mantém-se fiel e será difícil que aceite pacificamente uma derrota na secretaria a meio do mandato.
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