Trump’s Other Wall

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O outro muro de Trump

Retire-se da equação as estultícias mediáticas de Donald Trump, como o muro na fronteira do México ou os laivos de infantilidade na disputa com a Coreia do Norte. Omita-se suspeitas substantivas (mas ainda por confirmar) sobre as ligações entre elementos da campanha de Donald Trump e a Rússia.

E faça-se também um esforço para desvalorizar afirmações racistas do Presidente dos EUA como a de considerar o Haiti e os estados africanos como “países de merda”.


Obviamente, é difícil expurgar todos estes elementos quando se traça o retrato da presidência de Trump, mas a realidade é que eles apenas ajudam a ajuizar a pessoa e não a avaliar os seus actos. O acto mais substantivo da presidência de Donald Trump foi a significativa descida dos impostos para as empresas entretanto aprovada. A promessa, numa primeira fase, permitiu aos mercados de capitais navegarem com ventos favoráveis. Agora, a sua concretização, está a levar dinheiro para os Estados Unidos, como o atesta a decisão da Apple de repatriar os lucros da Europa para o país de origem. Em paralelo, Washington foi promovendo a desvalorização do dólar (e promete ir mais longe), potenciando assim a capacidade exportadora das suas empresas, ao mesmo tempo que encarece as importações com a fixação de novas taxas aduaneiras.


O “América Primeiro” de Donald Trump é isto mesmo. O proteccionismo da economia, mais fácil de concretizar quando se tem multinacionais gigantescas que se tornaram incontornáveis à escala mundial. Nesta medida, a presidência de Trump coloca desafios inevitáveis à União Europeia e à narrativa de globalização que tem sido defendida na última década e à qual a China prometeu aderir, embora tardando em materializar este compromisso.


Ontem, em Davos, Angela Merkel defendeu que os países da União Europeia devem “responder com reformas” fiscais às mudanças norte-americanas, o que passa pela criação de um regime comum em relação aos impostos que são pagos pelas empresas. A chanceler alemã considera, por outro lado, que o proteccionismo não é solução. Tendo razão, fica a incógnita: como é que a União Europeia, enquanto um todo, pode manter a sua visão globalizante, relacionando-se com uma potência que caminha na direcção contrária? A única certeza é a de que uma reforma fiscal é manifestamente insuficiente para desviar Donald Trump da sua rota isolacionista. Para derrubar este muro, a União Europeia vai precisar de usar armas mais sofisticadas e menos conceptuais.

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