Professores – O novo braço armado de Trump
Para Donald Trump tudo na vida parece um filme ou um jogo de computador. Não percebe o que está a fazer às novas gerações. Só assim se explica esta nova decisão de tornar os professores de todas as escolas do país no seu novo braço armado.
Como todos já sabem, a maioridade nos Estados Unidos da América só se completa aos 21 anos, idade em que as pessoas adquirem todos os direitos e deveres na sociedade. Até lá – e desde os 16 – existe um gradual depósito de responsabilidade nos cidadãos. Não é novidade para ninguém que, por lá, o consumo de álcool só é permitido depois de completo esse processo. Mas para fumar ou ter a posse de uma arma de fogo as exigências são bem menores. Partimos, por isso, do princípio que só atingindo a maioridade achamos que uma pessoa está completamente habilitada a corresponder de uma forma equilibrada na sociedade: poder andar aos tiros será uma coisa de somenos.
A verdade é que os lobbies das armas mandam no país e essas mesmas armas têm que ser escoadas para algum lado, porque existem muitos milhões para faturar e com eles untar uma série de políticos e também, porque não dizê-lo, de pseudo ativistas que criaram autênticos negócios baseados na chantagem que fazem ao poder instituído. Se não existe uma guerra de momento – porque nem para criar uma este Donald teve jeito – tem que se abrir uma nova frente de utilização do produto. Retirar a possibilidade de em alguns Estados as crianças de qualquer idade poderem usar uma arma de fogo desde que acompanhadas pelos pais? Restringir o uso e a sua posse, filtrar os licenciamentos e reduzir o armamento ? Claro que não, é mais fácil armar mais uns quantos para a coisa ficar mais equilibrada.
Num país onde é proibida a venda de um chocolate “kinder surpresa” (porque a criança pode ter uma boca suficientemente grande para se engasgar com o ovo laranja que contém no interior ), vemos um vídeo de uma criança de 13 anos a chorar de emoção por receber dos seus pais uma Beretta 686 – que é “só” uma espingarda de canos sobrepostos usada para caça e desporto, mas que te fura de um lado ao outro se preciso for. Ah e tal, mas só pode usar na presença deles. Claro que sim, os resultados estão à vista. Em média, há um tiroteio por semana (que se saiba ) numa escola americana. Tornou-se já tão banal que não abre telejornais, só quando há mortes significativas.
E para resolver o assunto das crianças armadas o que fazemos? Armamos os professores até ao nó para ser justo. Assim, de cada vez que uma criança sacar da sua arma numa sala de aula, do outro lado teremos um formador que, através de um balázio, lhe explicará que não é bonito andar por aí aos tiros. Penso até que a próxima decisão do Trump será autorizar o uso de trincheiras nas salas e nos pátios e obrigar os auxiliares a usar coletes à prova de bala, não vá o Diabo tecê-las. Existe ainda a possibilidade de se abrir uma secção no refeitório de tiro ao prato para que os mais afoitos possam praticar educadamente sem atirar em pessoas.
É absolutamente surreal a forma como as pessoas são induzidas e se deixam levar. A desculpa para o armamento? Se existir um ataque terrorista, as pessoas estarão mais preparadas para reagir. Claro que sim. Vejo um carro a despistar-se na minha direção e de imediato saco da “Glock” que carrego no coldre, não vá essa senhora desgovernada ser uma discípula de Alá que nos vem atropelar a todos. Se não for azar, tivesse mais cuidado. Em seguida sopro na ponta do cano para afastar o fumo e, qual Lucky Luke, dou-lhe meia volta e guardo-a enquanto conserto o chapéu de cowboy. O circo está montado. Felizmente que, por cá, a nossa cultura é bem desenvolvida nesse aspeto e o acesso a armas de fogo é muito restrito e condicionado. Também não estou a imaginar a minha professora de Físico-Química a chegar com uma “Kalashnikov” debaixo do braço entre a carteira e o casaco…Parece um episódio do “Family Guy” mas não. É a realidade que temos…Enquanto isso, morrem centenas de jovens todos os anos e ninguém faz nada.
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