The New American Isolationism

 

 

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O novo isolacionismo americano

Ao mesmo tempo que abandona os seus aliados, Trump ensaia uma estratégia de détente com os seus inimigos tradicionais, já tendo reunido com King Jon-un e encontrando-se com Putin

Durante imenso tempo, a Europa viveu debaixo do guarda-chuva americano. Primeiro contou com os Estados Unidos para assegurar a sua recuperação económica logo a seguir à ii Guerra Mundial, através do Plano Marshall. Depois contou com os Estados Unidos para assegurar a sua defesa, tendo a NATO sido formada precisamente para conter o expansionismo da URSS no continente europeu, depois de todos os países do leste terem sucumbido à Cortina de Ferro. A Europa habituou-se assim a contar com os Estados Unidos para fazerem o papel de polícia do mundo e defenderem a Europa de tudo o que a ameaçasse, tendo a NATO inclusivamente sido usada para intervir no conflito dos Balcãs a partir de 1992 e até na Líbia em 2011.

A eleição de Trump alterou radicalmente este estado de coisas, sendo essa mudança logo visível desde o seu discurso de tomada de posse, onde proclamou as palavras “America first”. Esse é o mesmo slogan usado durante a ii Guerra Mundial pelos que se opunham a qualquer intervenção americana no conflito e que a conseguiram adiar até que o ataque japonês a Pearl Harbor a tornou inevitável. Estas palavras de Trump foram na altura recebidas com chacota pelos europeus, tendo-se multiplicado vídeos a colocar o seu país em segundo lugar depois da América. Ninguém quis compreender que as mesmas significavam toda uma nova política de nacionalismo e de anti-intervencionismo americano, para a qual os europeus se deveriam adequadamente preparar. Infelizmente, não o fizeram.

Desde então, Trump tem mostrado todo o seu desprezo pelos acordos e instituições internacionais, adoptando o proteccionismo como principal política. Tirou os Estados Unidos do Acordo de Paris, proclamando que estava mais preocupado com os habitantes de Pittsburgh do que com os de Paris, e lançou taxas sobre a importação de aço e alumínio, afectando o comércio com a Europa e com o Canadá. Ainda não o fez, mas é manifesto que a seguir vai taxar as importações de carros alemães, o que pode provocar um forte rombo no actual motor económico da Europa. Ao mesmo tempo que abandona os seus aliados, Trump ensaia uma estratégia de détente com os seus inimigos tradicionais, já tendo reunido positivamente com King Jong-un e realizando agora um encontro com Putin. Curiosamente, esse encontro ocorre depois de duas cimeiras, uma do G7 e outra da NATO, em que Trump praticamente partiu a loiça toda destas instituições. Trump mostra assim muito mais consideração pelos tradicionais inimigos da América do que pelos seus antigos aliados.

Mesmo o aliado mais antigo da América, o Reino Unido, não escapou a Trump. Na sua visita a Londres, já sabendo que ia ser recebido com protestos, Trump reagiu da forma habitual. Atacou o mayor de Londres, tirou o tapete a Theresa May com uma entrevista a criticar o soft-Brexit e a elogiar Boris Johnson, e desconsiderou o rígido protocolo estabelecido para os encontros com a rainha. Se tinham dúvidas, os britânicos ficaram a saber que já não fazem parte das prioridades de Trump.

Esta mudança não é propriamente novidade. Lord Palmerston, primeiro-ministro inglês no séc. xix, referiu que “a Inglaterra não tem amigos eternos nem inimigos perpétuos. A Inglaterra tem é eternos e perpétuos interesses”. Hoje é a América de Trump a seguir esta regra. Quanto ao interesse dele, foi agora anunciado: obter a sua reeleição em 2020. E como os europeus que hoje protestam contra ele nas ruas não votam nas eleições americanas, é bem capaz de o conseguir.

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