Haverá vida depois de Trump?
O que sobreviverá de suas maluquices?
Donald Trump já recebeu os mais demolidores qualificativos que qualquer pessoa, mais ainda um presidente, poderia conquistar. Merece.
Mas, quando você pensa que não há mais nada a dizer de ruim sobre ele, eis que o site da revista Foreign Policy saca do coldre entrevista com Radoslaw Sikorski, ex-ministro polonês de Defesa e de Relações Exteriores.
Pergunta o jornalista: “Você acha que Trump é apenas ignorante daquela história [pré-Segunda Guerra] ou acha que é hostil à noção de alianças em geral?”.
Resposta de Sikorski: “Se eu fosse comentar sobre sua ignorância, não saberia por onde começar”.
Não foi à toa, portanto, que o principal colunista do Financial Times, Martin Wolf, carimbou em Trump o rótulo de “ignoramus”.
Feita essa sintética apresentação de tão nefasto personagem, cabe perguntar: ele e suas intervenções em políticas internas e externas vieram para ficar ou o próximo presidente americano (na discutível hipótese de que os Estados Unidos sobrevivam a Trump) vai desfazê-las uma por uma?
Quanto ao presidente em si, a resposta vai depender muito da eleição legislativa de novembro. Se os democratas recuperarem a maioria nas duas Casas do Congresso, é possível que avance um processo de impeachment.
Ainda mais agora que Michael Cohen, seu advogado de muito tempo, deixou vazar que gravou secretamente uma conversa com Trump, dois meses antes da eleição presidencial, em que os dois discutiram pagamentos para uma ex-modelo da Playboy que dizia ter tido um caso com Trump.
Se os republicanos ameaçaram afastar Bill Clinton por um caso com uma estagiária da Casa Branca, também não é motivo para impeachment situação semelhante com modelo da Playboy?
Na minha opinião, nenhum dos casos é para impeachment. Mas o puritanismo hipócrita de uma parte dos legisladores americanos diz outra coisa.
Se, no entanto, não vier o impeachment, pode vir, em dois anos, a derrota de Trump na tentativa de se reeleger. Se sobreviver a uma nova eleição, salve-se quem puder.
Mas, se for derrotado, suas iniciativas permanecerão? É o tema de coluna de Janan Ganesh, um dos muitos bons colunistas do Financial Times.
Ele acha que algumas de suas iniciativas em política interna sobreviverão (política fiscal, hostilidade aos imigrantes eprotecionismo), por terem apoio da opinião pública.
Não estou tão certo no capítulo protecionismo, a julgar por pesquisa recente do Centro Pew: praticamente a metade (49%) dos consultados acha que o aumento de tarifas para importações de parceiros dos EUA seria ruim para o país. Só 40% acham bom.
Já nos dois temas que provocaram sensação na última semana (a briga com a Otan e o carinho com a Rússia), é razoável esperar que um novo presidente, republicano ou democrata, reverta as iniciativas de Trump. Afinal, hoje são 72% os americanos que têm opinião desfavorável sobre a Rússia. E, inversamente, só 23% são críticos da Otan.
De qualquer forma, o mundo não pode ficar esperando inerme a desarrumação que Trump está promovendo. Já há mexidas, incipientes, aqui e ali. Pena que o Brasil seja um barco solto na tempestade, sem um presidente de fato e sem candidatos que pensem além das alianças a fazer (ou, em um caso específico, além de sair da prisão).
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