Trema com Trump e Bolsonaro
De como os idos de novembro prometem ser sombrios
21.out.2018 às 2h00
Até há pouco, parecia que os democratas tinham enormes chances, nas eleições de novembro, de fazer a maioria pelo menos na Câmara dos Representantes.
Não é mais assim: “As pesquisas mais recentes mostraram a possibilidade real de que os republicanos manterão o controle tanto do Senado como da Câmara”, escreveu David Leonhardt, editor da newsletter de Opinião do New York Times.
Consequência, pelo menos do ponto de vista dele, crítico permanente de Donald Trump: “Trump se sentirá encorajado a continuar seus ataques aos valores democráticos”.
Agora, troque Trump por Jair Bolsonaro e a frase continuará valendo à perfeição.
Tudo bem que há mais diferenças do que semelhanças entre Trump e Bolsonaro, por mais que uma parte importante da mídia internacional trate o candidato brasileiro como um Trump tropical. O problema é que as semelhanças são assustadoras. Algumas delas:
1 – Mulheres. Trump já disse que as mulheres gostam de ser agarradas pela vulva. Bolsonaro já disse que a deputada Maria do Rosário (PT-RS) não merecia ser estuprada, talvez por não ser do tipo que agrade ao capitão reformado.
A propósito, há um terceiro presidente da mesma estirpe, o filipino Rodrigo Duterte, que lamentou não ter sido o primeiro a violentar uma freira.
2 – A turma deles. No ano passado, Greg Gianforte, candidato republicano que disputava uma cadeira por Montana em eleição isolada, atacou o jornalista Ben Jacobs (The Guardian) e o derrubou com um golpe típico de judô.
Acabou eleito, mesmo depois de ter sido punido com seis meses de prisão (pena suspensa), 40 horas de serviços comunitários e 20 horas de frequência a um serviço de aconselhamento para conter a ira.
Pois bem: em comício nesta semana, Trump elogiou Gianforte: “Qualquer sujeito que pode aplicar um golpe desses é meu tipo de pessoa”.
Bolsonaro, ao fazer sistematicamente o gesto de disparar uma arma, indica com a maior clareza possível qual é o seu tipo de pessoa, aquele que atira primeiro e pergunta depois.
3 – A mídia. Trump vive dizendo que tudo o que se publica e ele não gosta é “fake news”. O filho de Bolsonaro, ao comentar a publicação pela Folha da catarata de “fake news” disparadas pelos amigos do pai, chamou o jornal de “foice” de São Paulo.
É uma muleta verbal usada frequentemente pela extrema direita para insinuar que a Folha é comunista.
Em culto no Rio, na quinta-feira (18), o pastor Silas Malafaia, um dos raivosos apoiadores de Bolsonaro, disse à repórter Ana Luiza Albuquerque: “Filha, vai me desculpar, o teu jornal, com todo o respeito, é o jornal mais esquerdopata, mais mentiroso, mais fake news”.
A propósito de ódio, Patrícia Campos Mello, a brilhante repórter que noticiou a catarata de “fake news”, foi vítima não de um mas de incontáveis golpes virtuais de judô, xingada pelas milícias bolsonaristas nas redes sociais.
4 – Por fim, cabe substituir Trump por Bolsonaro também em coluna da sexta-feira (19) de Edward Luce (do jornal Financial Times), em que ele descreve o presidente americano como o típico “ugly american” (o americano feio). É um tipo que, entre outras características, manda para aquele lugar quem não gosta do jeito de ser de Trump e sua turma.
Se as pesquisas estiverem mesmo certas, cá e lá, os idos de novembro prometem ser sombrios.
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