Tenho alguma dificuldade em acreditar que um Estado totalitário não controle uma das maiores e mais lucrativas empresas do seu país.
Parece-me ainda evidente que quem cria um sistema de crédito social sinistro, vigiando os seus cidadãos e premiando quem melhor o faz, não deixe de ir pelos mesmos métodos globalmente. Sobretudo quando se trata de um país com o poderio económico e comercial da China, que encontra na Huawei os mecanismos perfeitos para os executar, enquanto o sistema 5G se encarrega de tornar a empresa apelativa.
Nada disto invalida que seja do interesse norte-americano enfraquecer o poderio comercial chinês e até compreendo que se retire daí a explicação para esta espécie de embargo à Huawei. Tenho é maior dificuldade em aceitar o argumento de que os americanos também utilizam os mesmos métodos de espionagem e sabotagem através das suas empresas. Um argumento que ignora grande parte das conquistas ocidentais, a legislação pública dos Estados Unidos, o sistema democrático num, e o comunista noutro. Para já não falar no menosprezo que isso revela à esfera de atuação dos serviços de inteligência americanos, e os próprios limites que este impõe.
As coisas são o que são e a China é o que é. Claro que a Administração Trump também é o que é mas a verdade é que estrategicamente tem atuado bem aqui (veja-se já as recentes reações e o que poderão significar), e poderá conseguir reforçar a relevância americana nalguns sectores estratégicos através deste tema. Fá-lo numa altura em que o país asiático (ainda) continua a depender mais dos americanos, e em que sabe da influência que tem sobre muitos países da União Europeia.
Enquanto europeu, custa ver alguém como Trump elevado a paladino e defensor da liberdade, mas é pior fechar os olhos ao que poderá significar a Huawei em cada país. Essa é a discussão que já interessa na Europa e não deve ser resolvida com um desfecho distinto entre grande parte dos Estados-membros da UE. Algo que só serviria para enfraquecer ainda mais a organização politicamente.
Esta também é uma discussão da qual Portugal dificilmente se deveria poder colocar à margem.
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