Num célebre debate televisivo em 1984, em vésperas de ser reeleito, Ronald Reagan, de 73 anos, responde com uma tirada genial a uma pergunta do moderador sobre a idade certa para se ser presidente. Diz o candidato republicano, antigo ator, garantir que não fará da juventude do adversário um tema da campanha. Até Walter Mondale, 17 anos mais novo, não consegue prender o riso. Nas urnas o democrata acaba esmagado pelo mais velho presidente dos Estados Unidos, título disputado por Donald Trump, se consideramos a chegada à Casa Branca, pois tinha 70, mas agora batido sem nuances por Joe Biden, que terá 78 anos no dia da tomada de posse.
Ora, deixando a idade de ser um problema para os eleitores (estará o democrata Biden arrependido de ter dito que só faria um mandato?), Trump terá em 2024 uma excelente oportunidade de mostrar que acredita na democracia, recandidatando-se. A seu favor tem o apoio de mais de 70 milhões de votantes nestas eleições de 3 de novembro, um aumento de uns sete milhões em relação a 2016, quando chegou à Casa Branca. Aliás, é o presidente republicano com mais votos populares de sempre.
A vice-presidente agora eleita, Kamala Harris, surge como a lógica escolha dos democratas para as próximas eleições, já retirado Biden. Será, então uma jovem de 60 anos tendo em conta o historial dos recentes protagonistas das presidenciais (Bernie Sanders ainda desafiou este ano Biden apesar dos 79 anos, Hillary Clinton tinha 69 quando foi derrotada por Trump). Mulher, filha de um jamaicano e de uma indiana, representaria como ninguém a nova América multicultural frente a um Trump, WASP, que se proclama campeão da outra metade e terá 78 anos.
A vantagem? Trump controlar a fúria, aceitar a derrota deste ano, desistir de ganhar nos tribunais o que perdeu nas urnas, assegurar a 20 de janeiro uma transmissão de poder digna da democracia americana. Há quatro anos, apesar de Trump ter andado a dizer que Barack Obama era um estrangeiro (e só deu o braço a torcer a poucas semanas de ser eleito), o presidente cessante lá esteve, sorridente com Michelle ao lado, no Capitólio. A América civilizada.
Bizarro? Nem por isso. O republicano Richard Nixon, que foi oito anos vice-presidente de Dwight Eisenhower, falhou a Casa Branca para John Kennedy em 1960, mas preparou-se bem para uma segunda tentativa e oito anos depois foi eleito presidente. Melhor exemplo ainda é o de Grover Cleveland, eleito em 1884, derrotado em 1888, vencedor de novo em 1892. Por isso, o democrata é o 22.º e o 24.º presidente dos Estados Unidos. Trump, se tivesse sucesso em 2024, seria o 45.º e o 47.º.
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