The Brazilian Biden May Be the Man in the White House

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Desde a vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais americanas, em novembro, as oposições brasileiras debatem em identificar quem poderia ser o “Biden brasileiro”, a versão nacional do candidato capaz de unir mais da metade do País e derrotar um presidente da extrema direita. É uma busca inútil. Primeiro porque as circunstâncias partidárias americanas obrigam a união em torno de um nome, enquanto no Brasil isso só acontece no segundo turno. Quando acontece. Segundo, porque o Joe Biden brasileiro é o próprio Biden.

Diplomatas, consultores e empresários com negócios nos dois países têm repetido que as pendências entre Biden e Jair Bolsonaro vão dissipar uma vez que o novo governo tome posse. Os interesses econômicos vão falar mais alto, argumentam. É um argumento que diz mais sobre os interesses envolvidos do que a realidade.

É fato que interessa aos Estados Unidos ter no Brasil um governo que rejeite a influência chinesa no continente. Também é fato que interessa a mercado brasileiro ter acesso aos IPOs em Nova York. Para a turma “nada-vai-mudar”, o custo de uma trégua é baixíssimo. Basta o governo Bolsonaro mostrar um mínimo de competência em parar a devastação da Amazônia e se livrar de duas bestas-feras: Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, e Ernesto Araújo, das Relações Exteriores. Só que eles não conhecem Bolsonaro.

Esta é uma era da dominância política. Bolsonaro chegará a 2022 sem resultados econômicos e com o desastre do combate à covid-19 nas costas. Ele precisa do discurso ideológico para manter sua base agitada e isso implica em manter em fogo alto o discurso da soberania nacional e tentar aprovar no Congresso leis que favoreceram sua base no agro, com os projetos que legalizam a posse das terras públicas invadidas por fazendeiros na Amazônia e o garimpo em terras indígenas. Para essa base fiel do bolsonarismo, acelerar o desmatamento da Amazônia é a alma do voto no presidente. Supor que Bolsonaro vai desistir da agenda desses eleitores para não sofrer críticas da Casa Branca é ingenuidade.

Para Biden também uma querela com Bolsonaro não é de todo ruim. Sem a maioria no Senado, o futuro presidente tem indicado auxiliares centristas, desagradando a base de esquerda essencial na sua eleição. Enfrentar Bolsonaro em defesa da Amazônia é uma alternativa barata para não desapontar a ala ecossocialista do partido Democrata, liderada pela popular deputada Alexandria Ocasio Cortez, conhecida como AOC. Como projetou o brasilianista e editor chefe da revista Americas Quaterly, Brian Winter, “imagine se a AOC tuitar toda semana contra o Bolsonaro? O governo Biden seria pressionado a agir”.

Bolsonaro acredita que poderá repetir com os Estados Unidos o mesmo comportamento de líder malcriado que mantém contra a China, a União Europeia e a Argentina. Biden pode ter ganhos políticos com a briga, especialmente porque dará voz nos Estados Unidos às ONGs ambientais e indígenas que tanto desagradam Bolsonaro e tão ramificadas na ala à esquerda dos democratas. Em porcentagem é mais provável que a relação de Bolsonaro e Biden seja ruim do que boa.

Ter um peso-pesado para desgastar Bolsonaro em 2021 é um quadro de sonho para as oposições. Divididas em mágoas e egos, as oposições dependem de uma vitória na eleição da Câmara dos Deputados, em fevereiro, para ter alguma relevância na vida nacional. Se perderem -o que é possível-ficarão restritas às notas de repúdio e editoriais que ninguém lê. Joe Biden, quem diria?!, pode ser o Biden perfeito contra Bolsonaro.

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