A Last Piece of Advice for Trump

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Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos ainda em exercício, na quarta-feira, tentou melar, como se diz no Brasil, a sua derrota para Joe Biden nas eleições presidenciais americanas instigando o seu gado a tomar o prédio do Congresso e pressionar os congressistas a dar-lhe a vitória. Não conseguiu. Apesar da baderna que provocaram, em cenas jamais vistas nos Estados Unidos, os políticos confirmaram a vitória de Biden e mandaram Trump definitivamente para casa. O problema é que, até dia 20, a casa de Trump é a Casa Branca. E sabe-se lá o que ele ainda será capaz de fazer até ao dia de devolver as chaves e partir para o diabo que o carregue.

Este é o problema. Enquanto escrevo, na manhã de quinta, Trump está recolhido a seus aposentos, mastigando a vergonha com que condenou o seu país ao ridículo mundial. Foi o que todos pensámos diante das cenas que vimos pela televisão: “Quer dizer que os Estados Unidos são como qualquer republiqueta da América Latina ou principado de opereta na Europa do século XIX, em que um general ou arquiduque tentava tomar ou manter o poder pelas armas e contra a vontade popular?” Não foi o que levámos a vida aprendendo nos filmes com Henry Fonda, James Stewart ou Gary Cooper, nos quais a Constituição americana é mais sagrada do que a Bíblia ou do que Moby Dick.

Neste momento, Trump, ainda em plena posse de seus poderes presidenciais, pode estar planejando usá-los para desfechar uma última vingança contra os adversários que o reduziram àquilo que ele mais temeu desde que nasceu: ser chamado de perdedor. Sim, Trump é um perdedor – e já o era antes de ser humilhado na quarta-feira. É um perdedor por ter perdido, por seus atos, o respeito da comunidade internacional e dos norte-americanos de bem. Mas, até por isso, nada mais perigoso do que um perdedor. E Trump é um perdedor que ainda tem gatilhos para apertar. Pode, por exemplo, querer jogar uma bomba nuclear no Irão. Como presidente, conhece os códigos que permitem fazer isto.

Nós outros, observadores neutros, sabemos que, no fundo, Trump não tem nada contra o Irão e nem sabe em que continente fica, e que essa bomba não seria para valer – que ele só a atirou para complicar a vida de Biden. Mas a bomba destruirá do mesmo jeito a capital, Teerão, e a Rússia, já se vendo como o alvo seguinte, poderá se antecipar e mandar as suas ogivas contra Nova Iorque, reduzindo a cidade a cinzas e impedindo a reabertura dos teatros da Broadway, prevista para junho. Vários filmes dos anos 1960 trataram desse assunto, ensinando-nos como é perigoso deixar armas de destruição total ao alcance de loucos.

Mas, felizmente, resta ainda outra hipótese: a de Trump estar tão deprimido pela derrota e pelo fim da sua carreira que não tenha forças nem para apertar um botão. E então eu lhe recomendaria a única atitude capaz de fazer dele, aí sim, um ícone, um símbolo, uma bandeira a ser desfraldada para sempre por seus seguidores idiotizados. E essa atitude seria: matar-se.

Nós, brasileiros, adquirimos certa prática no assunto. No passado remoto, tivemos um presidente que tomou essa atitude: Getúlio Vargas. Em 1930, ele tomou o poder depois de uma revolução armada e exerceu um simulacro de democracia até 1937, quando promoveu um autogolpe e instituiu uma ditadura fascista, chamada, não por acaso, de Estado Novo – como a do seu colega português Oliveira Salazar e tão cruel quanto esta. Getúlio, que era simpático aos alemães, estabeleceu um regime de terror no Brasil, com a asfixia total de qualquer oposição e torturas indescritíveis em suas prisões. Em 1942, com a Segunda Guerra e por causa das pressões internacionais, teve de juntar-se aos Aliados contra Hitler – o Brasil tornou-se até o único país sul-americano a mandar combatentes para a Europa, mais exatamente para a Itália. E só por isso, no fim da guerra, Getúlio foi derrubado – não fazia sentido lutar pela democracia lá fora e manter um regime antidemocrático dentro de casa. Mas, por sua surpreendente aliança com os comunistas pouco antes de ser derrubado, Getúlio criou uma aura de “progressista”, que sustentou o seu mito e fez que, cinco anos depois, em 1950, voltasse ao poder como um presidente constitucionalmente eleito. Sim, o povo o elegeu.

Mas não adiantou muito porque, com o seu governo tomado pela corrupção e pelo crime – o famoso “mar de lama”, que já começava a envolver até um dos seus filhos -, Getúlio, vendo-se perdido, escreveu uma “carta-testamento” e deu um tiro no coração. Isso aconteceu no dia 24 de agosto de 1954 e uma frase sua na carta ficou para sempre: “Deixo a vida para entrar na história.” Por causa dela, até hoje Getúlio tem milhões de viúvas.

Trump poderia fazer exatamente como Getúlio. Nesse sentido, o tiro no coração, e não na cabeça, é fundamental. O tiro na cabeça faz uma grande lambança, com sangue, miolos e cacos de osso espalhados pelo aposento. Já o tiro no peito é absolutamente clean. Mantém o rosto intacto, apto a ser fotografado e servir de modelo para uma máscara mortuária, útil na confeção dos futuros bustos e estátuas – como os que Getúlio tem por todo o Brasil. Seria uma saída honrosa para Trump, e com a vantagem de nem lhe desfazer o penteado.

Entre nós, o genocida Jair Bolsonaro, último aliado de Trump no mundo, continua acreditando que as eleições americanas foram uma fraude e já começou a anunciar que o Brasil terá o mesmo problema em 2022, ano em que tentará a reeleição. A campanha de Bolsonaro, sabendo que também será derrotado, é preventiva.

Pois eu lhe recomendaria uma prevenção ainda mais radical. Se Trump optar pelo suicídio, ele também deveria fazer isto. Mas que não esperasse pela derrota na eleição, e sim que fizesse isto já, agora, neste momento.

Nenhum minuto sem Bolsonaro será cedo de mais para o Brasil.

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