The Challenge of Going Back to the Future

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Dois curtos parágrafos, escritos e assinados em separado por dois dos homens mais poderosos do mundo, fizeram regressar os Estados Unidos ao Acordo de Paris. Em 20 de janeiro, Joe Biden em Washington e António Guterres em Nova Iorque formalizaram a reinscrição da nação americana no futuro, acabando com o lastimável hiato protagonizado por Donald Trump.

O momento foi mais importante do que parece pela razão simples de que o combate às alterações climáticas não constitui uma luta simétrica. Vale o empenho sistemático e concertado de todos, independentemente da sua dimensão, mas o que fará mover o ponteiro é a ação decisiva dos maiores poluidores do planeta, a China, a Índia, a União Europeia e os Estados Unidos, que juntos valem mais de 55% das emissões de gases de efeito estufa da última década.

Os EUA e a UE têm uma responsabilidade acrescida. São historicamente líderes e influenciadores das melhores práticas e os seus mercados internos têm a dimensão e a capacidade de estabelecer perímetros fiscais que limitam muito a circulação de produtos de elevada intensidade carbónica. Face a uma China que parece ter entrado numa espiral de hegemonia global, é crítico que, de ambos os lados do Atlântico, se estabeleça um alinhamento virtuoso para marcar o ritmo da ação climática.

Nos EUA, o caminho não será fácil, ainda que tenha sempre existido uma frente de resistência a Trump. A Califórnia não abandonou a sua linha de liderança na rota da descarbonização, confrontando as políticas do presidente, como o prova o acordo de redução de consumos de veículos – logo, de emissões – alcançado com os fabricantes Ford, Honda, BMW, Volkswagen e Volvo, e que é bem mais ambicioso do que as metas federais.

O plano de Joe Biden, que está já a reforçar a Casa Branca com staff especialista em alterações climáticas, é recuperar as políticas e a regulação ambiental de Obama, que Trump cancelou, e, no mesmo movimento, atualizar as metas em alta. E é aqui que começam as dificuldades. Mexer em setores industriais como o da produção automóvel – incluindo camiões – e no todo-poderoso mundo da extração de petróleo, gás e carvão – incluindo o destrutivo fraturamento hidráulico, designado fracking – é como tocar num ninho de vespas.

Com uma América politicamente dividida a meio, só uma férrea disciplina de voto viabilizaria alterações de cariz legislativo que deixassem rasto no combate às alterações climáticas. Ora acontece que uns quantos senadores, de ambos os lados, já fizeram saber nas suas campanhas para a recente eleição que não estão na disposição de votar favoravelmente políticas que afetem as economias fósseis dos seus estados. É o caso de senadores tão importantes como Mitch McConnell, líder republicano oriundo do Kentucky, e Joe Manchin, democrata de West Virginia que liderará o Comité da Energia, dois estados onde a indústria do carvão reina.

A solução para Biden é então recorrer às chamadas Ordens Executivas do presidente. O inconveniente é que estas, embora tendo força de lei, não são leis, podendo ser alteradas a qualquer momento por este ou por outro presidente. Para evitar nova reversão daqui a uns anos, o novo inquilino da Casa Branca só pode contar com um argumento: o sucesso das suas políticas. Emitir menos, continuando a crescer economicamente.

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